Reinaldo recolhe celulares de deputados antes de reunião, não convence e será investigado

A situação não está fácil para o governador Reinaldo Azambuja (PSDB), acusado de receber R$ 38,5 milhões em propinas do grupo JBS. Na manhã de hoje, ele obrigou os deputados estaduais a entregarem os telefones celulares antes da reunião, que durou duas horas e meia, para se explicar das acusações. O tucano não convenceu e a Assembleia Legislativa, em gesto inédito e histórico, aprovou a Comissão Processante para investigá-lo.

É o quarto dia seguido em que o governador se sente na obrigação de dar explicações. Ontem, o lado humano do governador, o segundo mais rico do País com um patrimônio de R$ 38 milhões, chorou duas vezes para negar as denúncias.

Acompanhado por secretários e até pelo então poderoso chefe da Casa Civil, Sérgio de Paula, que caiu após boatos de cobrança de propina envolvendo frigoríficos, ele se reuniu a portas fechadas com os 24 deputados estaduais.

Em tempos da bombástica Operação Lava Jato – em que poderosos políticos já foram gravados por delatores – o tucano se precaveu ao extremo e, praticamente, humilhou os deputados estaduais, eleitos como representantes do povo. Eles foram obrigados a entregar os telefones celulares para entrar na sala de reuniões do Palácio Guaicurus. Duas fontes confirmaram o recolhimento dos telefones por ordem do governador.

Sem celulares, deputados ouviram as explicações e o pedido do tucano para não dar prosseguimento aos pedidos de impeachment. Abalado diante da opinião pública pelas denúncias, o tucano não convenceu nem a base aliada.

Em entrevista após a reunião, o presidente da Assembleia, Junior Mochi (PMDB), contou que o governador afirmou ser inocente, negou a cobrança de propina em troca de incentivos e acusou o grupo de retaliação, por supostamente pagar mais ICMS no ano passado.

Como nem os celulares foram permitidos no encontro, não se ficou sabendo se o governador chorou pelo segundo dia consecutivo.

No entanto, o fato concreto é que não conseguiu convencer nem a base aliada. Apesar de contar com o apoio de 20 dos 24 deputados estaduais, ele não evitou a aprovação do requerimento proposto pelo PT (Pedro Kemp, João Grandão, Cabo Almi e Amarildo Cruz), que cria a comissão especial para investigar o governador do Estado.

Esta é a primeira Comissão Processante criada na história da Assembleia Legislativa e pode levar ao impeachment do governador. Nem nos tempos trágicos do governador Marcelo Miranda, que deixou o cargo pelos fundos e com a Governadoria ocupada pelos servidores sem salários, houve tal iniciativa.

Com a aprovação da proposta, Azambuja será, oficialmente, investigado pela Assembleia pela denúncia de que recebeu propina do JBS. Ele também será alvo do inquérito com o mesmo objetivo no Superior Tribunal de Justiça.

Conforme a delação premiada da JBS, homologada pelo ministro Edson Fachin, relator da Operação Lava Jato no Supremo Tribunal Federal, o governador recebeu R$ 10 milhões em espécie e R$ 28,4 milhões por meio da emissão de notas falsas, sendo R$ 15,4 milhões de produtores rurais e R$ 12,9 milhões do Frigorífico Buriti.

Se chora diante das câmeras, o governador adota uma outra postura longe dos holofotes. A entrega de viaturas do Corpo de Bombeiros, na tarde de hoje na Praça do Rádio, é um exemplo da forma de governar do tucano.

Os militares que não estiverem de serviços foram convocados a prestigiar a solenidade de entrega das viaturas. Só foram dispensados os bombeiros de serviço, porque também não podem pela natureza de serviço essencial.

O Jacaré procurou a assessoria do secretário estadual de Justiça e Segurança Pública, José Carlos Barbosa, para saber a razão de obrigar os militares a prestigiarem o evento, mas não teve retorno até a publicação desta matéria.