A delação bomba da JBS acabou com os sonhos da multinacional de carne comprar empresas de saneamento e do governador Reinaldo Azambuja (PSDB) vender a Sanesul, que detém a concessão em 68 municípios. Apesar das suspeitas, a Aegea Saneamento e Participações, controladora da Águas Guariroba, deu o primeiro passo para assumir a parte de esgoto da estatal sul-mato-grossense.Na semana passada, o Governo concluiu a análise das propostas das empresas interessadas em PPP (Parceria Público-Privada) com a empresa de saneamento. Pela proposta, a Sanesul praticamente privatiza a parte de esgotamento sanitário.
Como a meta é universalizar a cobertura de esgoto em 10 anos, a “sócia” assumirá 50% da companhia em 2027 em troca do investimento nas obras de saneamento.
Das cinco empresas interessadas no processo, o grupo de trabalho acatou a proposta da Aegea, que controle 14 empresas em nove estados, inclusive a Águas Guariroba, em Campo Grande. Para garantir a ampliar a rede de esgoto dos atuais 150 mil para 550 mil imóveis, a empresa propõe investir R$ 1,7 bilhão em 10 anos.
A segunda colocada foi a Andrade Gutierrez, que previu investimento de R$ 2,4 bilhões.
Prevendo que ia ser pego na Operação Lava Jato, o grupo JBS nem se arriscou a criar a empresa de saneamento. E para desgraça dos corruptos, os irmãos Batista se anteciparam às investigações e decidiram entregar todo mundo.
E acabaram colocando o governador sul-mato-grossense sob suspeita. De acordo com o delator Ricardo Saud, a contribuição da campanha em 2014 tinha segundas intenções. A empresa doou R$ 10,5 milhões ao tucano naquele ano de olho na compra da Sanesul.
A empresa não era a única na mirada da poderosa empresa, que comprou políticos de A a Z. Além de Mato Grosso do Sul, a JBS mirou as concessões de Santa Catarina, do Rio Grande do Norte e de Minas Gerais.
Como as segundas intenções vieram à tona, o plano de vender 100% a Sanesul naufragou. Agora, o Governo aposta em privatizar metade da empresa por meio de PPP. A empresa investe em esgoto e fica com o retorno do serviço.
Como a estatal não dispõe de caixa para realizar os investimentos necessários, a PPP é uma alternativa.
Segundo o Correio do Estado, apesar do edital prever investimentos de até R$ 4 bilhões, o Governo previa que a “terceirização” custasse R$ 929 milhões. O montante previsto pela Aegea será o dobro, R$ 1,7 bilhão.
A princípio, não há irregularidade no negócio. Contudo, o mínimo que a sociedade deveria exigir do Governo é mais transparência no processo. E os órgãos fiscalizadores deveriam acompanhar a negociação com lupa.
O alerta não é em vão. Veja a história de o presidente Michel Temer (PMDB), mesmo encurralado por denúncias, ainda negociou propina de R$ 500 mil por semana por 20 anos.
Apesar da nossa torcida por mais ética na política, nunca sabemos quem ainda aposta na impunidade para fazer negociatas com o nosso dinheiro.