O empresário Wesley Mendonça Batista, dono da JBS, revelou, em depoimento à Polícia Federal, que foram realizadas dez reuniões com o governador Reinaldo Azambuja (PSDB) para discutir o pagamento de propina. Além disso, ele contou que havia uma linha direta com o tucano para discutir este assunto e os incentivos fiscais concedidos ao grupo.
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Ele foi ouvido em 15 de dezembro de 2017 pela delegada Cynthia Pereira Fonseca, da Polícia Federal, para complementar a delação premiada homologada em maio do ano passado pelo Supremo Tribunal Federal. O depoimento consta do inquérito 1.190, em tramitação no Superior Tribunal de Justiça, e se tornou público ao ser anexado pelo empresário à petição protocolada no STF em maio deste ano.
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Além de revelar que pagava R$ 3 milhões por mês de propina ao governador, que é candidato à reeleição nas eleições deste ano, Wesley deu detalhes de como ocorreu o acerto. A empresa tinha uma conta corrente da propina, onde constou que o montante devido a Reinaldo somava R$ 70 milhões.
No entanto, como ele assumiu o valor destinado a campanha de Delcídio do Amaral, que foi derrotado no segundo turno, eles chegaram a um impasse sobre o montante a ser descontado. Para Wesley, o valor a ser abatido era de R$ 27 milhões. Reinaldo só concordou em reduzir R$ 17 milhões. Os R$ 53,5 milhões teriam sido pagos, sendo R$ 33,5 milhões por meio de notas fiscais frias fraudulentas e R$ 20 milhões em espécie.
O acerto da propina ocorreu em pelo menos dez reuniões entre o início de 2014 e o final de 2016. A maior parte das reuniões teria sido com Joesley Batista, seu irmão e também delator. Wesley contou que participou de quatro reuniões no gabinete de Reinaldo na Governadoria.
Para dificultar eventual interceptação telefônica, ele contou que nunca conversou com o tucano por meio de telefone celular nem enviou mensagens de texto por SMS ou aplicativo.
As reuniões sempre foram agendas pela secretária do empresário, Érika Henna. Ela ligava para o gabinete do governador e acertava o encontro com a sua secretária. Para comprovar o depoimento, ele encaminhou os números dos telefones usados pela funcionária para ser averiguado pela PF.
Outro que agendava os encontros era o secretário de Joesley, Flávio Gerodetti. Além de acertar o valor da propina, que representava 30% dos incentivos fiscais, o empresário discutia os créditos tributários concedidos pelo Governo.
Em dezembro de 2015, por exemplo, o Correio do Estado divulgou que o governador tinha concedido incentivo de R$ 1 bilhão à JBS, que se comprometeu a reativar e ampliar frigoríficos no Estado.
A CPI da JBS, criada pela Assembleia Legislativa, não puniu ninguém, mas foi suficiente para revelar que a empresa recebeu os incentivos, mas não fez os investimentos nem criou os empregos previstos. Na prática, a JBS pagou menos impostos, lucrou mais e não gerou mais postos de trabalho.
Não é por nada que os números do Ministério do Trabalho mostram que houve o fechamento de 17,5 mil vagas de emprego entre 2015 e 2017 em Mato Grosso do Sul.
Sobre este trecho do depoimento, o jornal Midiamax publicou matéria ontem e chamou a linha direta entre o governador e os empresários como “telepropina”.
O governador nega que ele recebeu propinas em troca de incentivos fiscais, como acusam os delatores. Reinaldo diz que é vítima de chefes de facção criminosa, no caso, os irmãos Batista.
Em entrevista ao Midiamax na segunda-feira, o advogado Gustavo Passareli, destacou o pedido do MPF para rescindir a delação premiada da JBS como indício de que as denúncias não procedem.
O inquérito tramita em sigilo no STJ e o relator é o ministro Felix Fischer. Até junho deste ano, o andamento do processo podia ser acompanhado pela internet, mas a medida foi suspensa pela atual presidente, ministra Laurita Vaz.