Condenado a nove anos e dez meses de prisão em regime fechado, o ex-deputado federal Edson Giroto (PR) culpa o ex-secretário estadual de Infraestrutura, Marcelo Miglioli, pelo sucesso da Operação Lama Asfáltica, deflagrada pela Polícia Federal há quatro anos. Réu em seis ações penais, ele aposta na perícia judicial para provar que não houve corrupção nem desvios de recursos.
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Inconformado por continuar preso, junto com o cunhado, o engenheiro agrônomo Flávio Henrique Garcia Scrocchio, o ex-braço direito do ex-governador André Puccinelli (MDB) avalia que paga preço alto do atual sistema político brasileiro, que classifica como “podre”.
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Na última terça-feira (28), após o advogado Valeriano Fontoura negar acesso da imprensa ao seu depoimento ao juiz federal Bruno Cezar da Cunha Teixeira, Giroto conversou por quase duas horas com O Jacaré.
Inicialmente, ele negou os crimes de corrupção. “Pode reunir todos os empreiteiros do Estado e perguntar, que eles vão confirmar que nunca houve acerto”, garantiu. No entanto, admitiu, que sempre pediu doações nos períodos de campanha.
As seis denúncias contra ex-secretário de Obras na 3ª Vara Federal
A primeira – Crime de lavagem de dinheiro mediante emprego de recursos de origem ilícita na aquisição de fazenda (clique aqui)
A segunda – Crime de lavagem de dinheiro mediante emprego de recursos de origem ilícita na aquisição de fazenda (confira aqui)
A terceira – Crime de lavagem de dinheiro mediante emprego de recursos de origem ilícita na construção de edifício residencial (clique aqui)A quarta – a) Crime de corrupção passiva decorrente do recebimento de aeronave por Edson Giroto. (b) Crime de lavagem de dinheiro. (confira aqui)
A quinta – (a) Fraudes em contratações e obras de saneamento integrado na Av. Lúdio Coelho, entre a Av. Duque de Caxias e a R. Antônio Bandeira.(b) Fraudes em contratações eobras da Rodovia MS-430. (c) Fraudes contra o BNDES. (d) Crimes de corrupção passiva. (e) Crime de organização criminosa. (veja aqui)
A sexta – (a) Fraudes em contratações e obras daRodovia MS-040.
(b) Fraudes contra o BNDES. (c) Fraudes em contratações e obras do Aquário do Pantanal. (d) Fraudes em contratações da Gráfica e Editora Alvorada Ltda. (e) Crime de organização criminosa: complementação à Ação Penal n. 0008855-92.2017.403.6000. (esta foi a única ação rejeitada pelo juiz, veja aqui).
Ele refutou ter cometido as irregularidades apontadas nas obras de pavimentação das rodovias MS-040, entre Campo Grande e Santa Rita do Pardo, e MS-430, de São Gabriel do Oeste a Rio Negro. Na primeira, o ex-secretário garante que os bueiros existem e fazem parte da obra.
Em relação a segunda, o ex-deputado diz que houve mudança no trajeto da obra, mas Miglioli a ignorou para reforçar a denúncia de corrupção no relatório encaminhado à PF. “Ele induziu a Polícia Federal ao erro”, enfatizou.
Para Giroto, Miglioli, que foi candidato a senador pelo PSDB e responsável pela pasta de obras no primeiro mandato de Reinaldo Azambuja, foi fundamental para o êxito da maior investigação de corrupção na história de Mato Grosso do Sul.
A investigação começou em 2013, com a denominação de Pilar de Pedra, mas sofreu sucessivos atrasos em decorrência do foro privilegiado. Primeiro em decorrência de Giroto ser deputado federal e do caso ter sido enviado ao Supremo Tribunal Federal. Em seguida porque Puccinelli era governador e só poderia ser julgado no Superior Tribunal de Justiça.
A PF retomou o inquérito em 2015, quando ambos deixaram os cargos e perderam o foro privilegiado. Para o ex-secretário, sem o relatório feito por Miglioli, a Operação Lama Asfáltica não teria resultado em 10 ações penais só na Justiça Federal.
O ex-secretário aposta na perícia judicial para comprovar que não houve desvio. Os réus já fizeram a perícia extrajudicial e, agora, querem o levantamento oficial da Justiça para confirmar o relatório. “Fizemos extrajudicial para garantir as provas”, justificou-se.
Preso por um ano e 21 dias, o chefe de Obras da Agesul, Wilson Roberto Mariano, o Beto Mariano, completou a defesa. Ele disse que a denúncia de desvio nas obras de manutenção das vias sem pavimentação está fundamentada em uma premissa errada.
“Não houve cascalhamento, houve revestimento primário para dar estabilização da via”, explicou-se.
Sobre a denúncia de enriquecimento ilícito, Giroto diz que tem como provar toda a evolução patrimonial. No caso da mansão cinematográfica, que diz ter construído porque é família italiana e gosta de reunir todos os parentes.
Na versão do ex-secretário, a sorte ajudou na construção da casa. Ele e a esposa, Rachel Portela Giroto, compraram um apartamento por R$ 500 mil no Rio de Janeiro. Em decorrência da Copa do Mundo e dos Jogos Olímpicos na Cidade Maravilhosa, houve boom imobiliário, o que elevou a valorização do apartamento para R$ 1,7 milhão em pouco espaço de tempo. “Eu errei porque não declarei isso, achei que poderia corrigir lá na frente”, disse, sobre o ganho de R$ 1,2 milhão.
Para construir a mansão, ele comprou dois terrenos no Damha. Além do dinheiro do imóvel no Rio, ele diz que usou o dinheiro de um apartamento na Capital, vendido em 10 parcelas de R$ 150 mil, e de empréstimo de R$ 1 milhão na Caixa Econômica Federal.
“Tenho nota de tudo”, garantiu. Em seguida, ele alfinetou o promotor Marcos Alex Vera de Oliveira, que o denunciou em duas ações por enriquecimento ilícito. “Duvido que ele tenha notas fiscais de tudo que gastou para construir a casa dele no Damha”, disse.
Procurado para falar sobre o assunto, o promotor explicou que não tem nota porque comprou a casa pronta. “O problema não é ter nota, mas ter um patrimônio incompatível com a renda”, explicou, ao destacar que o problema do ex-secretário é que não conseguiu provar a origem para construir a casa, comprar fazendas e até avião.
Giroto aproveita a entrevista para inocentar a mulher de todas as denúncias. “Ela é uma pessoa maravilhosa”, declara-se. O ex-secretário garantiu que o salão de beleza dela teve o lucro milionário, que é colocado em xeque pelos policiais federais.
Para o MPF, Giroto é um dos chefes da organização criminosa, junto com Puccinelli e o empresário João Amorim. Eles são acusados de desviar mais de R$ 430 milhões dos cofres públicos.
Dos três, o ex-governador é o que ficou menos tempo preso, cinco meses. Amorim ficou detido por um ano e 21 dias. Giroto continua preso e aposta em habeas corpus que será analisado, de novo, pela ministro Laurita Vaz, relatora da Operação Lama Asfáltica no Superior Tribunal de Justiça.
Nos próximos dias, ele deverá ser o único preso na Operação Lama Asfáltica na Capital. O cunhado obteve progressão de pena para o regime semiaberto e pediu transferência para São José do Rio Preto (SP).
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