A mobilização contra o desmatamento do Parque dos Poderes ganha força na Capital. Além do Instituto Histórico e Geográfico de Mato Grosso do Sul, que condenou a destruição de um dos maiores patrimônios naturais de Campo Grande, dois movimentos de ciclistas vão promover pedaladas em defesa da preservação do meio ambiente.
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Organizado de forma espontânea, como as marchas contra a corrupção em 2013, o movimento S.O.S. Parque começou com dois grupos de advogados, Juristas pela Democracia e Advogados pela Democracia, Justiça e Cidadania, ambientalistas e artistas. No próximo fim de semana, ciclistas vão se juntar à causa e tentar sensibilizar o governador Reinaldo Azambuja (PSDB) e deputados estaduais a desistir da ideia de desmatar 11 áreas para construção de estacionamento e novos prédios públicos.
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O primeiro grupo convocou o passeio ciclístico Ocupa Parque, que acontecerá amanhã, a partir das 20h. A pedalada vai começar no Relógio Central, no cruzamento da Rua 14 de Julho com a Avenida Afonso Pena. O segundo é o 2º Pedal Ambiental, que ocorrerá no domingo, a partir das 15h30, na rotatória da Avenida Mato Grosso. O ato será pelo Parque dos Poderes e contra o desmatamento.
“É apenas a reunião de pessoas apaixonadas por bicicleta, que gostam de se encontrar para pedalar e acharam uma forma de demonstrar a indignação contra uma decisão completamente descabida e absurda, que é o desmatamento do Parque dos Poderes”, explicou a advogada Michele de Andrade Torres, que usa a bicicleta como meio de locomoção. Ela vai participar das duas manifestações.
“Porque é uma forma de eu me manifestar contra uma decisão que acredito que só pode ser derrubada com a força popular”, justificou-se. O Pedal Ambiental é realizado pelo Bike Anjo Campão, uma rede de voluntários e voluntárias que ensinam pessoas de todas as idades a pedalar.
“Será um pedal nível passeio e educativo. O objetivo dele é falar sobre os impactos do desmatamento no Parque dos Poderes”, contou Michele.
O professor de Geografia, Leonardo Nunes Cortes Cardoso, também vai participar da pedalada como forma de protestar contra o desmatamento do Parque dos Poderes, uma área verde só comparável aos grandes parques do mundo, como o Central Park em Nova Iorque.
“Bom, primeiramente não se trata de um movimento no sentido de ser organizado por alguém, possuir uma liderança ou apresentar qualquer organização formal. É apenas uma chamada para aqueles que pedalam (ou não) comparecerem”, conta Leonardo, ressaltando que o mais importante será a participação de quem deseja se manifestar a favor do meio ambiente.
“Particularmente acredito na importância da preservação da vegetação do Parque dos Poderes e de seus arredores, a região mais próxima ao Shopping Campo Grande tem eventualmente sofrido com alagamentos e o lago do parque das Nações tem sofrido com assoreamento (a ponto de ter que ser esvaziado). Estes são alguns problemas que podem se agravar com a retirada de vegetação do parque, e são consequências muito difíceis de se reverter, acredito que um maior diálogo com a população seja necessário neste sentido”, explicou, sobre o motivo da manifestação no fim de semana.
Além dos ciclistas, o presidente do Instituto Histórico e Geográfico de Mato Grosso do Sul, Valmir Corrêa, divulgou dura nota contra o desmatamento e a favor da preservação do Parque dos Poderes.
Na sua avaliação, ao desmatar o Parque, Reinaldo estará indo contra uma tendência mundial, de preservar as áreas verdes. “Destarte, impõe-se o dever de se manifestar diante da ameaça de redução da área do Parque dos Poderes para fins de edificação pretendidos pelo Governo do Estado, primeiramente, em respeito à memória do confrade Francelmo de Barros, herói da saga em defesa do ambiente em nossa terra, e também por se constituir em precedente capaz de colocar por terra essa longa e permanente luta”, afirmou.
Na nota, Valmir alerta que o desmatamento do Parque poderá tirar Campo Grande da lista da Fundação Arbor Day como uma das cidades brasileiras mais arborizadas do mundo. O título deixou campo-grandenses orgulhosos por estarem incluídos no mesmo nível de grandes metrópoles, como Nova Iorque e Paris.
“Que nossa Capital permaneça merecedora dessa distinção, preservando seus parques, respeitando o ambiente e preservando a singular qualidade de vida de seus cidadãos”, proclamou o Instituto Histórico e Geográfico.
No entanto, a obsessão do governador Reinaldo Azambuja poderá comprometer esse título. Na próxima terça-feira, o Ministério Público Estadual realizará audiência pública para debater os efeitos do desmatamento na cidade. A audiência pública acontecerá a partir das 9h no auditória do MPE, na Rua da Paz, 134.
No sábado, o movimento S.O.S. Parque coletou quase mil assinaturas contra o desmatamento da região. No documento, eles fazem um apelo aos deputados estaduais que retomem a proposta de tombamento do Complexo dos Poderes. A decreto foi aprovado em 2018, mas acabou sendo revogado no final do ano passado para não criar obstáculo ao projeto do governador de reduzir o tamanho da área verde.
A preservação do meio ambiente tem custos e consequências. Belo Horizonte e São Paulo sofreram com alagamentos e temporais devido à falta de preservação do meio ambiente. Campo Grande segue o mesmo caminho se a sociedade não impedir a destruição dos parques e áreas verdes.