A juíza da 3ª Vara Criminal, Eucelia Moreira Cassal, marcou para o próximo dia 14 de abril o início do julgamento de Maria Aparecida Salmaze, ex-presidente da OMEP (Organização Mundial para Educação Pré-Escolar), e suas filhas, fillho, genros, esposo e até neto. A família Salmaze foi denunciada, em 2018, por peculato, concurso de agentes públicos, organização criminosa e lavagem de dinheiro.
O Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Repressão ao Crime Organizado) conseguiu identificar o repasse de R$ 800 mil ao marido, filhos, neto e genro de Maria. Além disso, a investigação não conseguiu identificar o destino de R$ 32,2 milhões retirados da Omep.
Além de pedir a condenação do grupo à prisão, seis promotores que assinam a ação penal pedem a suspensão dos direitos políticos, o pagamento de R$ 1,033 milhão ao município de Campo Grande e a indenização de danos morais coletivos de R$ 500 mil.
A defesa de alguns dos réus tentou barrar o processo justificando que não há “justa causa” para seu andamento. A magistrada, porém, respondeu não vislumbrar “qualquer das hipóteses de absolvição sumária, […], razão pela qual determino o prosseguimento do feito”, e marcou a audiência para ouvir seis testemunhas.
“Em razão da gama de fatos, do número de pessoas a serem ouvidas e das inúmeras questões fáticas que podem ser objeto de indagações, recomenda-se a cisão da audiência de instrução em mais de uma ocasião. De início, designo audiência de instrução de forma presencial […] para a data de 14/04/2023 às 14h, visando a oitiva das seis primeiras testemunhas arroladas pela acusação”, decidiu Eucelia Cassal.
Escândalo na educação
O Ministério Público Estadual revelou um dos maiores escândalos na área educacional da Prefeitura de Campo Grande, já que os recursos eram desviados da educação e assistência social. O Gaeco provou que a OMEP e Seleta eram usadas para pagar funcionários fantasmas, nora de ex-vereadora e até preso.
Maria Aparecida Salmaze ficou famosa ao ser presa na operação e por ter usado o dinheiro da entidade para custear viagens internacionais. No entanto, ao destrinchar a denúncia, o MPE expõe que a entidade se transformou em sustento da família da então presidente, que desviava o dinheiro destinado para o custeio das creches na Capital.
Inicialmente, os promotores descobriram que a ex-diretora empregava a família toda.
O Gaeco descobriu que houve repasse de R$ 800 mil por meio de cheques, com saques identificados na boca do caixa. O maior valor foi pago ao marido de Maria Aparecida, Valdevino Florentino dos Santos (R$ 277.717,98). A segunda maior quantia ficou com o genro, Rodrigo Messa Puerta, 35, que recebeu R$ 258.600,81.
Também foram identificados pagamentos para os filhos: Adriana Helam Corrêa, 38 (R$ 137.403,68), Andrea Cristina Corrêa, 46 (R$ 13.680,53), e Hélio Corrêa Júnior, 42 (R$ 89.700,00). Maria Aparecida ficou com R$ 6.381,73, e o irmão do genro,Darvin Messa Puerta, com R$ 16.540.25.
Esse montante se refere apenas aos repasses que tiveram o destinatário identificado. De acordo com o Gaeco, no período em que esteve sob o comando de Maria Aparecida Salmaze, a OMEP movimentou R$ 32,2 milhões sem identificar os beneficiados pelos pagamentos.
Apenas em cheques com valores acima de R$ 100 mil foram movimentados mais de R$ 10,8 milhões.
Veja mais:
Diretora repassou R$ 800 mil à família e retirou R$ 32 mi da OMEP sem identificar destino
Juiz põe fim à farra familiar na OMEP e bloqueia cerca de R$ 1 milhão de professora e genro
Ex-presidente da OMEP deu jeitinho para burlar MPE e criou ONG para repassar R$ 998 mil ao genro
A revelação do suposto esquema criminoso contou com a colaboração premiada da tesoureira da entidade, Aliny Aparecida de Souza, que foi denunciada, mas poderá ter pena reduzida em dois terços.
Seis promotores assinam a denúncia contra a família Salmaze: Marcos Roberto Dietz, Fernando Martins Zaupa, Tiago Di Giulio Freire, Adriano Lobo Viana de Resende e Gervásio Ferreira de Lima Júnior.
Os integrantes da suposta organização criminosa, segundo o Gaeco
O MPE denunciou 10 pessoas pela farra nos gastos com dinheiro destinado à educação infantil. Enquanto milhares de crianças ficavam sem vagas em creches na Capital, a família Salmaze é acusada de ter feito de tudo com o dinheiro repassado pelo município:
Veja os denunciados pelos crimes de peculato, organização criminosa, lavagem de capitais, entre outros:
- Maria Aparecida Salmaze, diretora pedagógica
- Rodrigo Messa Puerta, genro
- Adriana Helam Corrêa, filha
- Andrea Cristina Corrêa, filha
- Hélio Corrêa Júnior, filho
- João Paulo Salmaze Corrêa Gonçalves de Oliveira, neto
- Valdevino Florentino dos Santos, esposo
- Darvin Messa Puerta Filho, irmão do genro
- Wesley Diogo Souza Porcino, empresário
- Aliny Aparecida de Souza, ex-tesoureira