Albertino Ribeiro
Durante toda a semana, não se falava outra coisa lá em casa. Era o eclipse solar, fenômeno que acontece apenas em intervalos de 30 anos. Entretanto, para poder enxergá-lo é necessário utilizar um material especial, ou seja, um filtro de soldador nº 14. Olhar diretamente para o fenômeno pode causar sérios danos a nossa visão; o filtro de soldador age, fazendo uma mediação entre o fenômeno e o seu observador.
Nessa mesma semana em que o eclipse foi tão falado, a guerra entre Israel e o Hamas também demandou nossa atenção; ninguém esperava que o Hamas, que na minha opinião é um grupo terrorista, atacasse de forma tão obtusa e, por que não dizer, cruel o território judeu.
Veja mais:
Economia Fora Da Caixa – Assim como o Brasil, economia não é para amadores
Economia Fora Da Caixa – A vantagem comparativa do Brasil será a indústria verde
Economia Fora Da Caixa – O Ministério da Defesa e o desenvolvimento industrial e tecnológico do Brasil
Muitos pensam que é fácil entender o conflito, pois trata-se de um grupo terrorista atacando um país democrático e bonzinho. Sendo assim, Israel estaria com toda a razão ao atacar o território palestino, destruindo o Hamas, mesmo que a incursão destrua também a vida dos cidadãos de Gaza.
Contudo, caro leitor, chamo sua atenção para a necessidade de colocar algo entre o fenômeno bélico na Faixa de Gaza e sua visão de mundo. Tenho certeza que, até o momento, você tem sido bombardeado todos os dias pela mídia corporativa, que dispara apenas parte da realidade em sua direção.
O povo Palestino é a maior vítima desse histórico conflito. Depois que Israel tornou-se mais uma vez uma nação, em 1948, deveria ocupar apenas uma parte do território da antiga Palestina. Contudo, avançou sobre este e foi empurrando o povo palestino para um pequeno pedaço de terra. Este pedaço de terra, inclusive, continua a encolher devido o avanço dos assentamentos ilegais de colonos judeus.
Hoje, os palestinos vivem dentro de um enclave, cercado pelo exército de Israel e sem ter direitos básicos para uma sobrevivência digna. Sua água é imprópria para o consumo, mas, como não existe outra opção, as pessoas bebem e ficam sujeitas a várias doenças. Ademais, são tratados pelo Estado Israelense como uma sub-raça, sem os mesmos direitos dos cidadãos israelenses. Devido a isso, todos os dias são humilhados física e psicologicamente.
O cerco criminoso de Israel ao pobre território é também responsável pelo colapso econômico na região. A taxa de desemprego na Palestina é de 27%. Além disso, o Estado Israelense se apodera dos escassos recursos naturais e também das exportações. Hoje, os sionistas absorvem 79% das exportações e 81% de suas importações. Trata-se de um colonialismo predador. Uma situação como esta – não precisa ser muito perspicaz para entender -, é propícia o ódio e a violência. Além disso, transforma muitos Jovens em soldados do Hamas.
O conflito Israel Palestina nunca terá fim, a não ser que seja criado um Estado palestino livre e soberano. Este caminho poderá ser pavimentado se Israel começar a respeitar os acordos internacionais já em vigência, dentre eles, suspender a construção de assentamentos judeus na Cisjordânia; estes vem crescendo desde a guerra de 1967 e ocorre às custas da destruição de muitos lares palestinos.
Aqueles que olham para o conflito sem utilizar o filtro do contexto histórico e cultural da região, certamente terão uma visão míope e parcial da realidade, correndo o risco de ficarem justamente do lado dos verdadeiros opressores e assassinos de pessoas inocentes.