Apontado como um dos maiores traficantes da fronteira com o Paraguai, Jarvis Chimenes Pavão sentará no banco dos réus em pelo menos dois julgamentos em 2024, ambos pela 5ª Vara Federal de Campo Grande. O primeiro ocorre em janeiro, pela acusação de lavagem de dinheiro. Seis meses depois, em julho, começa a segunda leva de audiências, pelos crimes de tráfico de drogas e organização criminosa.
Poderoso e influente, Jarvis Pavão é aliado do PCC (Primeiro Comando da Capital), facção que alcançou faturamento de R$ 4,9 bilhões por ano, segundo o Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Repressão ao Crime Organizado), do Ministério Público de São Paulo. Condenado por fornecer armas e entorpecentes a grupos criminosos e também denunciado por planejar assassinato de rivais, o traficante recebeu a alcunha de “Senhor das Drogas”.
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Como possui nacionalidades brasileira e paraguaia, Pavão viveu 17 anos no país vizinho, sendo oito preso. Ele foi extraditado ao Brasil no final de 2017 para cumprir uma pena de 17 anos e 8 meses de prisão e atualmente está preso na Penitenciária Federal de Porto Velho (RO).
Também ganhou notoriedade com a execução cinematográfica, com metralhadora .50, do empresário e traficante Jorge Rafaat, “o rei da fronteira”, em junho de 2016. O assassinato teria sido acertado dentro da cadeia em Assunção entre Pavão, o chefe do PCC na região, identificado como Galã, e o representante do Comando Vermelho. No entanto, nunca foi investigado.
Órgãos de investigação federais e internacionais afirmam que, apesar de estar preso em uma unidade penitenciária, o narcotraficante continuou fornecendo toneladas de cocaína para organizações criminosas. Ao mesmo tempo fortaleceu um esquema de lavagem de ativos formado por pessoas físicas e jurídicas.
As audiências de instrução e julgamento marcadas para o ano que vem ocorrem na 5ª Vara Federal de Campo Grande, porque os crimes possuem relação.
Em 23 de janeiro de 2024, serão ouvidas as testemunhas de acusação e de defesa, além do interrogatório dos réus Jarvis Chimenez Pavão, Wesley de Matos e José Clyver Vilanova Cavalcanti. Este último, também chamado de Bito ou Tica, é famoso por ter sido piloto do avião de outro famoso traficante, Fernandinho Beira-Mar. Eles são acusados de lavagem de dinheiro.
Em processo relacionado, Jarvis Pavão, José Clyver, Wesley, e Humberto Vilanova Cavalcanti também serão julgados por tráfico internacional de drogas e associação criminosa. As audiências ocorrem em 10, 23, 24 e 25 de julho e 6 de agosto de 2024.
A denúncia do Ministério Público Federal acusa o “Senhor das Drogas” de fornecer cocaína com origem da Bolívia e do Paraguai ao restante do grupo. A negociação foi revelada por intercepções telefônicas em operações da Polícia Federal.
A droga, 34 quilos de cocaína, foi apreendida enquanto era transportada pelo município de São José (SC), em dezembro de 2023.
“O fato é que a investigação desenvolvida na Operação Entreposto revelou, com base nas evidências colhidas durante o monitoramento das mensagens via BBM (a seguir apresentadas), que Jarvis Chimenez Pavão, José Clyver Vilanova Cavalcanti, Wesley de Matos e Humberto Vilanova Cavalcanti tiveram envolvimento nesse tráfico de droga, cuja apreensão foi descrita acima. Jarvis foi quem, do Paraguai (mesmo preso), forneceu a Wesley e José CIyver (“sócios” no tráfico de droga e no proveito econômico dele decorrente), baseados em Ponta Porã/MS, a droga que foi vendida por estes a Sebastião Arley Pereira Barbosa”, relata o MPF.
Os acusados negam participação no crime e envolvimento com organização criminosa. Jarvis Pavão ainda alega que as acusações deveriam ter sido efetuadas pela Justiça do Paraguai, onde estava preso na época da operação.