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    As Destinadas – as mulheres expulsas por Solano Lopes durante a Guerra do Paraguai

    Edivaldo BitencourtBy Edivaldo Bitencourt17/03/202410 Mins Read
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    José de Abreu
    Escultura em homenagem às mulheres expulsas de Assunção durante a Guerra do Paraguai (Foto: Reprodução)

    Um dos mais trágicos episódios da Guerra do Paraguai causou a morte de milhares de mulheres de classe média e alta do Paraguai. Com os maridos acusados de traição por Francisco Solano Lopes, elas acabaram sendo obrigadas a abandonar suas casas e vagaram pelo país e até pelo território brasileiro, onde morreram de fome e em decorrência de doenças.

    Esta é uma das histórias contadas no livro “O Lendário Forte do Iguatemi – A tragédia do Espadim e os pioneiros de Paranhos, do escritor José de Abreu. O Instituto Histórico e Geográfico de Mato Grosso do Sul apoiou a obra.

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    Abaixo, o escritor conta parte desta história em uma matéria especial para  O Jacaré:

    “No início do ano de 1868, muitas batalhas decisivas e favoráveis aos aliados, já eram decididas em pleno território paraguaio. Os poucos soldados do exército da nação guarani, tendo como chefe supremo o próprio general Francisco Solano Lopes, lutavam incansavelmente, derramando suas últimas gotas de sangue em favor da pátria. Seus melhores homens haviam tombados sem vidas em combates anteriores no sul do país.

    Foi sobre as ordens do general Francisco Solano Lopes que, em fevereiro de 1868, a cidade de Assunção deveria ser evacuada, isto é, num prazo máximo de 48 horas. Desta forma, e diante daquele caos instaurado, a população da capital guarani caiu no mais absoluto desespero.

    A maior parte das famílias perderam seus lares, deixando para trás si os seus pertences e bens, os quais foram confiscados e doados para o esforço da guerra. Restavam agora uma multidão desagregada, um êxodo repleto de mulheres, crianças e pessoas idosas vagando pelas estradas.

    A sinistra intenção do general Francisco Solano Lopes, era então punir com rigor parte daquela multidão desprotegida, desafortunada e agora sem guaridas, uma casta de desafetos e indesejados da nação guarani, em especial as mulheres, cujos maridos, esposos, senhores da mais alta categoria social, ministros, generais, oficiais superiores, subalternos, funcionários civis de todas as graduações, artistas, negociantes, lavradores, operários, foram arrastados ao acampamento de São Fernando, submetidos ao Conselho de Guerra, sob pretexto de urdirem conspirações contra o governo e fuzilados como réus de alta traição ou mortos no cepo de laço.

    Foi desta agremiação de desvalidas mulheres, antes, pertencentes à classe média alta de Assunção que surgiram as Destinadas.  Alguns documentos atestam a existência de um número superior a 10 mil mulheres, incluindo crianças e pessoas idosas que, desatinados e em pleno disparate, se obrigaram a deixarem suas casas e tudo quanto possuíam.

    Sentenciadas, embora, injustamente, se sujeitaram a acompanharem o exército paraguaio pelo interior do país; vivendo as piores humilhações num estado deplorável de miséria, vagando pelos caminhos entre os vilarejos de Luque, Piribebuy, Yhú, Curuguaty até o Arroyo Espadim, nas margens do rio Iguatemi, hoje, território brasileiro.

    A brutal ordem de Solano López dada aos sicários, era para lancear a todos quantos exaustos, caíssem pelo caminho; tal insanidade deixou um rastro de morte, e assim, as estradas ficavam juncadas de cadáveres, entre eles: mulheres, crianças, pessoas idosas, além de animais mortos putrificados, carretas atravancando as estradas, um quadro horripilante.

    A passagem por Yhú

    Depois de terem passado pelo povoado de Yhú, localidade onde centenas delas pereceram, seguiram para Curuguaty. Após um breve período de tempo nesta vila, partiram rumo ao calvário derradeiro, saindo no dia 28 de outubro de 1869, com destino ao Arroyo Espadim, conforme atestam os documentos.

    A penosa jornada até aquele referido degredo denominado Espadim, na encosta do Iguatemi, foram de sete dias, enfrentado todo tipo de adversidades, abalo, agruras, aflições, fome e muito medo.

    Para o jornalista paraguaio Héctor Francisco Decoud (1855-1930), membro de uma das famílias de maior destaque nos primeiros anos do pós-guerra, o número de retirantes que chegaram no Espadim foi de 2.814 pessoas. Naquele arraiano lugar já havia ranchos de palhas erguidos no entorno, no entanto, se fez necessário a edificação de tantos outros casebres de palhas, dado ao número de pessoas recém-chegadas para aquele acampamento.

    O cerco da fome e os horrores da morte

    Este era o lugar, o campo de morte, o lugar de penúria, o purgatório onde aos poucos as pessoas ali enviadas iam definhando lentamente até serem consumidas pela fome e pela peste. Este era o tão distante Espadim, o indesejado lugar onde seria o fim de centenas de almas, o mais temido das condenadas, as vítimas ao serem julgadas ou sentenciadas para aquele maldito campo, estavam fadadas ao fim, submetidas a uma morte lenta e demorada, pois era esse o fim drástico determinado pelo supremo Francisco Solano López.

    O seu nome dava repugna, causava arrepios, impunha medo e pavor àquelas pobres almas destinadas àquele purgatório nas margens do Iguatemi. O Espadim seria para aqueles andarilhos já exaustos, famintos e maltrapilhos um verdadeiro sinônimo do inferno, cujos condenados, muito raramente voltavam aos seus lugares de origem com vida. Localizado numa distante planície a uns 110 quilômetros de Curuguaty, sentido Leste para quem partia da região central do Paraguai, ficava o referido acampamento de extermínio.

    Hoje, este antigo sítio cercado de lendas e horrores, pertence ao município de Paranhos no sul do estado, cerca de 463 quilômetros de Campo Grande MS. Para as ditas condenadas chegarem até aqueles confins, tiveram que permear a densa floresta de mato alto, e corajosamente transpor a elevada serra de Maracaju, protegida por paredões de pedras e rochas maciça.

    A medida que avançavam pelo tortuoso carreiro, as caminhantes, condenadas, trilhavam por um labirinto cortado por uma única senda estreita e pedregosa. Não havia outro caminho para o qual as injustiçadas deveriam percorrer até o dito Espadim. Sobreviver naquele desterrado lugar era contar com a sorte, e isto era algo rara e excepcional para a maioria daqueles infelizes.

    Homenagem às milhares de mulheres conhecidas como destinadas (Foto: Arquivo)

    Alimentos esdrúxulos e a salvação de alguns

    A falta de alimentações no Espadim era algo indizível, extremo, e tudo quanto aquelas almas pudessem solver com o fim de aplicar-lhes a fome, isto era feito. O consumo de carnes de cães, sapos, cobras, lagartos, jumentos, couro, laranjas azedas, entre outros, foram na verdade a única alternativa para aquela multidão de abandonados e jogados à própria sorte nas margens daquele rio; lembrando ainda que, boa parte daquelas provisões eram fornecidas pelos indígenas da região à preços exorbitantes, ainda assim, o número de óbitos era assustador.

    As crianças esquálidas, famintas, andrajosas, passavam os dias caçando os mais imundos répteis e animais, e logo que algum era apanhado, disputavam a sua posse com o furor próprio do desespero. A mortandade, no entanto, continuava medonha, levando dezenas de crianças e velhos: sobretudo os dias de chuva eram fatais: amanheciam hirtos, gelados, aqueles mesmo que buscavam com avidez o sustento para o corpo, hoje pendiam inertes para a tumba!

    As mulheres pareciam múmias ambulantes

    No dia 22 de dezembro de 1869, partiu da Vila de Curuguaty, no Paraguai, o tenente-coronel Antônio José de Moura, com o fim de resgatar daquele degredo a sua irmã e duas sobrinhas, as quais se achavam confinada no Passo do Espadim, na companhia de outras quase três mil mulheres.

    Ao chegar naquela lazeira nas proximidades do rio Iguatemi, onde desemboca o antigo Arroyo do Espadim, hoje, Córrego Destino Cué, Moura testificou naquele lugar uma cena infernal: mulheres esqueléticas, definhadas, desfalecidas, lentamente se movimentavam, pareciam múmias.

    Havia pressa de sair daquele horrível lugar. As quatro horas da manhã daquele dia 25 de dezembro de 1869, Moura reuniu 1,2 mil dessas infelizes, e as dividiu em grupos que deveriam caminhar com certa distância um do outro; e retomaram o caminho de volta para a vila de Curuguaty.

    A morte diária, um número assustador

    Outros depoimentos que procedem das anotações e das lavras do Marechal José Bernardino Bormann, [Bormann, 1869 / VOL.3 A História da Guerra do Paraguai]. Sobre as que ficaram no Espadim, encontra-se o seguinte:

     “As outras, as que ficaram, eram como cadáveres. Elas mal podiam com seus lentos movimentos (…). 

    Ficaram em horrível miséria!  Mas, se aqueles corações ainda eram susceptíveis de sensações; e se o desalento da morte ainda não pesava sobre elas; se podiam lampejar raios de esperança e de vida, quão cruciante foi a dor naquele terrível momento em que estas desventuradas viram partir suas companheiras daquele sitio de sofrimento, de miséria e de morte! Havia ali a solidariedade da miséria, da dor, dos infortúnios e da própria morte! Partiam, abandonavam o lúgubre e sinistro sitio; quebravam, portanto, aquela solidariedade (…).

    Algumas, dentre as que ficaram, concentravam as suas forças, já debilitadas e desfalecidas; erguiam-se com custos para acompanhar as que partiam; ensaiavam alguns passos; mas, enfraquecidas, caiam exprimindo profundos gemidos com o qual as esperanças e a avidez. Outras apenas conseguiam assentar-se sobre o leito de relva, e, com olhos marejados de lágrimas, lançavam um olhar cheio de dores e saudades para as companheiras a quem a felicidade afinal, sorria no último momento” (…).

    A média diária de mortes era superior a 20 pessoas

    Se considerarmos como fonte de informações o número de pessoas que saíram de Curuguaty, em 28 de outubro de 1869, e chegaram até o Passo do Espadim, perfazendo um total de 2.814 criatura, conforme apresentado por Héctor Francisco Decoud; subtraindo por 1.200 mulheres contadas pelo coronel Moura na noite em que deixaram o Espadim, em 25 de dezembro de 1869, incluindo as 80 desventuradas que já tinham chegado em Curuguaty em 14 de dezembro daquele mesmo ano, obtém-se um resultado negativo de 1.534 pessoas sepultadas naqueles ermos. 

    Se pegarmos como base o tempo em que elas permaneceram acampadas naquele lúgubre lugar, ao que correspondem um total de aproximadamente 60 dias, isto é, desde à saída da vila de Curuguaty até o retorno delas que se deu em 25 de dezembro de 1869, logo, teremos um número de mortes assustador, algo que poucos brasileiros têm ciência, um número expressivo que correspondia mais de 20 óbitos por dia, conforme apontam os documentos. 

    Outros episódios também destacados no livro é a Guerra com o Paraguai, considerando inúmeras batalhas e a participação dos aliados nas campanhas realizadas em diversas regiões do pais, (1864- 1870). As atividades da (CML) Comissão Mista de Limites, demarcando a fronteira entre os dois países, (1872-1874), e ainda o surgimento da Companhia Mate Laranjeira e a exploração dos ervais no sul da província de Mato Grosso.

    • O livro “O LENDÁRIO FORTE do IGUATEMI – A TRAGÉDIA do ESPADIM e os PIONEIROS de PARANHOS” poderá ser encontrado nos seguintes endereços:
    • Editora Life: https://www.lifeeditora.com.br
    • IHGMS: https: ihgms.org.br
    • Livraria Maciel: https://maciellivros.com.br
    • Obs. Shopping Norte Sul
    • Ou pelo WhatsApp (67) 9 9287 0044.

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