Mário Pinheiro, de Paris
O movimento das ideias na filosofia crítica teve seu auge com Michel Foucault, Jacques Derrida e Gilles Deleuze nos decênios de 60 e 70. Eles encarnavam Lacan, Jean Baudrillard e Luis Althusser nos debates políticos, sociais e culturais. Todos eles foram contemporâneos da revolução estudantil de 1968.
O eixo direita, esquerda e a desconstrução da razão estava em voga, mas a ênfase se fixava sempre sobre a educação e a liberdade de expressão no saudosismo marxista.
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A desconstrução é um tema que diminui e reduz o pensamento à estaca zero, significa a impossibilidade de agir, de criar, de achar saídas. A trajetória de cada um é singular, porém, nenhum deles se considerava como representante de uma corrente de pensamento, como por exemplo, o existencialismo. Eles eram simpatizantes do marxismo e do socialismo.
Talvez seja interessante e importante rever o passado baseado na lógica cartesiana para entender o presente político saudando a volta do fascismo. Para os porta-vozes da extrema direita a crise política e social atual é culpa dos imigrantes e da gastança do governo com planos sociais.
Foucault, em seu tempo, afirmava que todo conhecimento era considerado um momento histórico em sua arqueologia do saber, a procura da verdade na pesquisa, mesmo que seja parcial. É quase certo que o trio de críticos da filosofia tenha razão em apontar a desconstrução da razão.
O ex-presidente François Hollande impôs aos ricos donos de grandes fortunas um imposto para diminuir o fardo carregado pelos proletários. Mas o presidente Emmanuel Macron, assim que derrotou o partido fascista de Marine le Pen em 2017, tinha por objetivo retirar o imposto dos ricos, e o fez.
É a terceira vez que o partido de Marine le Pen chega perto do poder, e, desta vez, se as sondagens estiverem certas, Jordan Bardella pode virar o primeiro ministro da extrema direita, seguindo exemplo de outros países europeus.
Macron deu fôlego ao grupo de extrema direita levantar a bandeira do nacionalismo. A desconstrução da razão está em curso e cada sociedade cria e se organiza em torno de um discurso dominante. Bardella e Le Pen seguem o mesmo ritmo acelerado de difusão do negativismo da política contra a imigração e os encargos sociais quem seguem no bojo da aposentadoria.
Macron é ultraliberal, governava para os ricos e isso não significa que a extrema direita será aos pobres, o fascismo deseja somente o poder, a miséria vem depois.
É necessário pensar o imprevisível e as diferenças, segundo Derrida que pôs à luz do dia a questão da metafísica. A diferença entre quem governa e o governado é que alguns podem fazer mal-uso de uma crise política para convencer iletrados e analfabetos a votarem na insignificante volta do antissemitismo e do fascismo.
A crise política brasileira, como exemplo, também abriu caminho para os fascistas chegarem ao poder e alargar contatos com a milícia e o racismo.
Mas na França que já viveu ocupação, divisão do país pelas tropas de Hitler, é mais complicado, é como se a lição da tragédia fosse jogada na lata do lixo, esquecida. A extrema direita esfrega as mãos e range os dentes ao saber que a porrada contra o público LGBT está no início do novo capítulo.
Jordan Bardella, provável novo primeiro ministro francês, segundo o atual ministro da Justiça, Eric Moretti, vai apenas proibir a entrada de imigrantes e deixar que eles morram no mar Mediterrâneo, o resto é bla bla bla. Os critérios usados por Bardella não fazem sentido.
Segundo Deleuze, os critérios clássicos de compreensão da realidade, ligando objeto e conceito, nos leva ao impasse. E Deleuze conhecia a história da ocupação, do nazifascismo, mas não imaginava o sucesso e retorno da extrema direita desta forma.
Os três filósofos falam de ruptura com o humanismo. O pensamento da desconstrução faz um convite de ruptura com as ilusões da filosofia moderna. Como resposta para a extrema direita as várias vertentes da oposição se uniram e criaram a Nova Frente de Esquerda que também pode derrotar a famigerada e popular extrema direita.