Ao obter o apoio do PL e do ex-presidente Jair Bolsonaro, a estratégia do presidente regional do PSDB, o ex-governador Reinaldo Azambuja, impulsiona a candidatura a prefeito do deputado federal Beto Pereira (PSDB), que vinha patinando nas pesquisas, e pode acabar com as chances da prefeita Adriane Lopes (PP) chegar ao 2º turno.
Por outro lado, a retirada de cena do ex-governador André Puccinelli (MDB) fortalece a candidatura da ex-superintendente regional da Sudeco, Rose Modesto (União Brasil). Já a indicação do ex-deputado federal e ex-governador Zeca do PT como vice-prefeito na chapa de Camila Jara (PT) pode fortalecer a Federação Brasil Esperança, formada pelo PT, PCdoB e PV, na chapa proporcional, mas o efeito na majoritária ainda é imprevisível.
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Uma eleição começa a ser definida na formação das alianças e na união dos partidos. Ao rifar um candidato bolsonarista, como o deputado federal Marcos Pollon (PL) ou o ex-deputado estadual Capitão Contar (PRTB), os tucanos tiram da corrida um nome para unir a extrema direita e até ter chance de entrar na briga por uma vaga no segundo turno.
Reinaldo deu um golpe de mestre na aliada, a senadora Tereza Cristina (PP), que apostava na amizade com Bolsonaro para coloca-lo no palanque da prefeita e garantir Adriane no segundo turno. Sem o apoio do ex-presidente, a progressista só contará com o apoio do Avante e da máquina municipal.
Para o cientista político, advogado e jornalista Tércio Albuquerque, os apoios de Bolsonaro e André deram uma reviravolta na candidatura de Beto. Ele classifica que o tucano conseguiu unir opositores ferrenhos e só desagradou os bolsonaristas mais radicais.
A prefeitura da Capital é excelente para garantir votos para o prefeito de plantão. André Puccinelli e Nelsinho Trad, ambos no MDB, e Marquinhos Trad, no PSD na ocasião, foram reeleitos no primeiro turno. Alcides Bernal (PP) mesmo com a cidade tomada por buracos e numa guerra com todo mundo quase chegou ao segundo turno em 2016, ficando de fora por míseros 2,6 mil votos.
Segundo Albuquerque, o calendário eleitoral trabalha contra Adriane para converter o tradicional uso da máquina em votos. Desde ontem (6), ela não pode lançar nem inaugurar obras, por exemplo, e fica sem condições de capitalizar pelas obras e projetos de última hora. Ela assumiu o mandato em abril de 2022. Na avaliação do cientista, Adriane é a principal impactada pela reviravolta.
No entanto, a máquina não faz milagres. O exemplo mais classifico é o de Edson Giroto, em 2012, quando tinha o apoio um grande arco de partidos, que iam da extrema direita a extrema esquerda, e ainda contava com o apoio das máquinas da prefeitura e do Governo do Estado. Ele perdeu para Bernal, que disputou com chapa pura.
Ao conquistar o apoio de Bolsonaro, Reinaldo neutraliza parte dos ataques da extrema direita a Beto Pereira, que é bombardeado como “comunista” e crítico do ex-presidente na época da pandemia, e ainda conquista os votos dos bolsonaristas mais fiéis. O tucano ganha força para chegar ao segundo turno.
Sem André, que liderava a pesquisa segundo o levantamento do 100% Cidades/Futura Inteligência, o tucano pode herdar parte dos votos do emedebista. Levantamentos apontavam que a principal beneficiária da desistência seria Rose Modesto, que corre por fora da polarização política.
Tércio Albuquerque aponta como um ponto positivo a possível indicação do empresário Roberto Oshiro, atual primeiro secretário da Associação Comercial e Industrial de Campo Grande, porque poderia colocar o empresariado da Capital do lado da ex-deputada federal.
Adriane perde força porque apostou todas as fichas no apoio de Bolsonaro. A prefeita chegou a viajar com a família para apoiar o ex-presidente em um ato na Avenida Paulista, em São Paulo, quando ele corria o risco de ser preso pelo Supremo Tribunal Federal. Ela ainda chegou a ir a outro evento no Rio de Janeiro, quando tirou foto com Bolsonaro.
A progressista corre o risco de ser a segunda prefeita e, também a 2ª do PP, a ficar de fora do segundo turno, mesmo contando com o comando da máquina. Bernal foi o primeiro e também era do PP.
Outro ponto a favor de Beto, segundo o cientista político, é o apoio de Eduardo Riedel, que vem fazendo uma gestão positiva, e de Reinaldo, que conseguiu eleger Riedel mesmo com a extrema direita apoiando o adversário, o Capitão Contar.
Tércio Albuquerque frisa que as negociações continuam até o dia 15 de agosto, quando termina o prazo para registrar as convenções. No entanto, ele vê como remota a chance de Beto perder o apoio de Bolsonaro, porque as negociações visam a disputa de 2026, quando o bolsonarismo vai tentar derrotar o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
Além dos quatro, a disputa pela prefeitura conta com o cientista social Luso Queiroz (PSOL), o vereador Professor André Luís (PRD) e o pecuarista Beto Figueiró (Novo). E outros nomes podem ser lançados pelos partidos nanicos.