O Estudo e Relatório de Impacto Ambiental (Rima) elaborado pela Bracell para a implantação de uma nova megafábrica de celulose em Mato Grosso do Sul aponta a preocupação com a fauna no local do empreendimento em Bataguassu, município na divisa com o estado de São Paulo. A empresa prevê o agravamento de um problema crônico no Estado, o atropelamento de animais silvestres nas estradas.
Com previsão de concluir a obra em três anos, o grupo estima investimento de R$ 16 bilhões e uma fábrica com duas composições, a primeira com capacidade para 2,9 milhões de toneladas de papel e a segunda com capacidade de 2,6 milhões, sendo 1,4 milhão de toneladas de papel (kraft) e 1,147 milhão de toneladas de celulose solúvel.
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No pico da construção, a obra vai contar com 12 mil operários. Além dos trabalhadores de Bataguassu e Santa Rita do Pardo, o empreendimento deverá contar com operários de outras cidades e estados brasileiros. Eles serão acomodados em alojamento com capacidade para 10 mil leitos, sendo divididos em dois de 5 mil e cada bloco com capacidade para 1,2 mil pessoas.
No Relatório de Impacto Ambiental, é tratado como Área Diretamente Afetada, dos meios físico, biótico e socioeconômico a região interna à propriedade da Bracell onde propriamente serão executadas as obras de implantação da nova fábrica de celulose. No local deverão ocorrer as alterações no ambiente mais intensas, seja pela substituição dos usos atuais, seja pela alteração de fatores ambientais.
A área foi definida a partir de um raio de 5 km no entorno do empreendimento, tendo em vista, principalmente, o estudo de dispersão das emissões atmosféricas da operação da nova fábrica de celulose e a área de estudo para encaminhamento das tubulações da adutora e emissário de efluentes.
A Área de Influência Direta (AID) foi considerada como sendo o município de Bataguassu, uma vez que o empreendimento é abrangido em sua totalidade pelo município. A Área de Influência Indireta (AII) corresponde à área potencialmente sujeita aos impactos indiretos da implantação e operação do empreendimento. Para os meios físico e biótico, a AII compreende os limites da Bacia Hidrográfica do Rio Pardo.
Na fase de implantação da megafábrica de celulose, o Relatório de Impacto Ambiental da Bracell aponta para a perda de vegetação e habitat terrestre do local, podendo afugentar a fauna.
“Porém, sabe-se que, como ocorrido em empreendimentos similares, a fauna tende a se afastar na fase de implantação e a retornar na fase de operação, não interferindo significativamente na fauna local”, diz o Rima.
O tráfego a ser gerado pela indústria da Bracell, tanto na fase de implantação como nas fases posteriores de operação, está associado ao manejo de veículos de grande capacidade (bi trens, tri trens ou até mesmo hexa trens). Esse incremento de tráfego tende a aumentar a frequência de atropelamentos de animais, afirma o relatório.
A principal medida para atenuar a quantidade de mortes na fauna é a implantação do “Programa de Mitigação das Interferências no Tráfego”, que tem como objetivo propor medidas mitigadoras associadas à segurança de trânsito e medidas preventivas para redução dos riscos de acidentes de trânsito.
Além disso, são propostas diretrizes para treinamento dos motoristas e metodologia para registros de acidentes tanto com pessoas como com a fauna silvestre. Entre outras diretivas, o programa recomenda que estas vias sofram constantes manutenções e sejam devidamente sinalizadas; além da importância que os funcionários próprios e terceiros recebam informações sobre direção defensiva, legislação de trânsito e sobre a legislação local a fim de evitar acidentes, inclusive com a fauna local.
“Ressalta-se ainda a importância da implementação do Programa de Monitoramento da Fauna Terrestre na fase de obras. O principal objetivo do Programa de Monitoramento de Fauna é realizar o acompanhamento e avaliação da biodiversidade relacionada à mastofauna, avifauna e herpetofauna na área de influência da fábrica”, diz a Bracell.
Em 2024, cerca de 2,3 mil animais foram atropelados nos biomas Cerrado e Pantanal. Os dados foram coletados pelo Projeto Bandeiras e Rodovias, do ICAS (Instituto de Conservação de Animais Silvestres). Em nota técnica que acompanha o estudo, especialistas alertam que a destruição do habitat natural dos animais também colabora para o aumento desses incidentes.