Auditoria da Agereg (Agência Municipal de Regulação dos Serviços Públicos) sobre as finanças do Consórcio Guaicurus aponta que as empresas que controlam o transporte público de Campo Grande estão com “fragilidade financeira”. A constatação é feita com base no declínio das receitas brutas a partir da pandemia de Covid-19 e prejuízos registrados nos últimos anos, evidenciando “deficiência de gestão financeira” do consórcio.
Além da pandemia, fatores como a qualidade do transporte, alto valor da tarifa cobrada dos usuários, tempo de corrida dos ônibus, migração de usuários para outras modalidades de transporte, como Uber, contribuíram para a baixa das receitas. Este cenário se reflete na dependência, cada vez maior, de subsídios bancados pela prefeitura da Capital para manter o Consórcio Guaicurus “ativo financeiramente”. De acordo com a auditoria, a ajuda do poder público já supera R$ 89 milhões.
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O grupo formado pelas empresas Cidade Morena, Campo Grande, Jaguar e São Francisco apresenta índices de liquidez “abaixo do parâmetro estabelecido para uma boa qualificação financeira”, conforme indicadores analisados entre os períodos de 2018 a 2023.
“Nesta ótica, na linha temporal para estes períodos em tese o Consórcio Guaicurus comprovou não estar em boa situação financeira, assim para cada R$ 1,00 registrado no Passivo Circulante em 2018 o Consórcio Guaicurus tinha de disponibilidades R$ 0,74 em 2018 representado o grau de comprometimento para com capital de terceiros a curto prazo, elevando-se este indicador para R$ 0,39 em 2023”, informa a auditoria sobre o Índice de Liquidez Corrente (ILC).
Sobre o Índice de Liquidez Geral (ILG) o Consórcio Guaicurus, no exercício financeiro de 2018, para cada R$ 1,00 de obrigação com terceiros a curto e longo prazo tinha de disponibilidade de rápida conversibilidade e de realizáveis a longo prazo R$ 0,45, passando a registrar em 2023 R$ 0,50.
“Novamente o Consórcio Guaicurus não tem obtido resultados satisfatórios ao longo dos seis anos. Ficando evidenciado que os resultados financeiros de curto e longo prazo apresentam-se abaixo das expectativas”, avaliam os auditores. Eles destacam que o grupo “precisa melhorar os fluxos financeiros, readequação esse indicador (ILG) reforçando a questão da deficiência de gestão financeira do consórcio”.
O “Indicador Kanitz” representa a previsão de solvência, em termos técnicos, o quanto e qual o grau de risco de continuidade da prestação do serviço na visão financeira do contrato do transporte público. De acordo com o modelo, o Consórcio ficaria insolvente caso os valores fossem menores que “-3”. Os resultados obtidos mostram que não houve risco de falência, mas há preocupação.
O grupo não apresentou risco de falência em 2018, sendo registrado indicador em 1,74 pontos naquele ano. Entretanto, o Consórcio Guaicurus tem apresentado uma escala “decadencial”, ou seja, cada vez menor, deste indicador passando a registrar 0,42 pontos ao final de 2023, indicando um alerta em relação aos exercícios anteriores.
“Ainda que não esteja demonstrando risco de falência nos períodos em tese, não há de se ficar tranquilo pois outros indicadores evidenciaram a fragilidade financeira das empresas consorciadas”, alerta a auditoria.
Com isso, o Consórcio Guaicurus fica cada vez mais dependente do socorro financeiro do poder público, com isenção de tributos e subsídios. Desde o início da concessão, em outubro de 2012, o grupo faturou R$ 1.968 bilhão, enquanto os custos com a manutenção do transporte coletivo de Campo Grande ficou em R$ 1,458 bilhão no mesmo período.
A auditoria destaca o aporte pela Prefeitura de Campo Grande às empresas do transporte público o montante de R$ 89.032.787,30, recebidos entre os exercícios financeiros de 2022 a 2024.
No início deste ano, Themis de Oliveira assumiu como novo diretor-presidente do Consórcio Guaicurus, após anos de gestão João Rezende. A busca por lucros maiores do grupo de empresas controladas pela família Constantino contrasta com a falta de investimentos em melhorias no sistema do transporte coletivo. Os passageiros sofrem com veículos precários, velhos e sem conforto.
O valor da tarifa de ônibus em Campo Grande é de R$ 4,95 desde 24 de janeiro. O reajuste foi de 3,15% em relação ao preço anterior, R$ 4,75.