Após sucessivos prejuízos nos últimos anos. a CCR MS Via fez “mágica” ao revelar o real montante arrecadado com a cobrança de pedágio na BR-163 e fechou o primeiro trimestre de 2025 com lucro inédito de R$ 21 milhões. A reviravolta nas contas do grupo, que até mudou de nome de CCR para Motiva, acontece na véspera de renovar o contrato bilionário, mesmo com a fama de não ter cumprido o previsto no primeiro acordo.
Há quatro anos, conforme as informações divulgadas no balanço da controladora, a MS Via só vinha contabilizando metade do faturamento obtido com o pedágio. Essa estratégia fez com que a empresa fechasse sucessivos anos no prejuízo e pressionasse a ANTT (Agência Nacional de Transporte Terrestre) a reduzir as obrigações da concessionária.
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Como o faturamento não estava de acordo com o previsto, a concessionária “sensibilizou” o órgão regulador a acabar com a obrigatoriedade da duplicação dos 845 quilômetros da BR-163, entre as divisas de Mato Grosso do Sul com o Mato Grosso e o Paraná.
O novo contrato só prevê duplicação de 201 quilômetros – 31% do previsto no contrato assinado em 2014 e nunca cumprido pela concessionária. Além de não cumprir a duplicação total em cinco anos, a CCR MS Via ainda descumpriu decisão da ANTT de reduzir a tarifa do pedágio em 53%. Ela conseguiu liminar na Justiça Federal para não reduzir o valor.
“O milagre”
No próximo dia 22 deste mês, o Ministério dos Transportes fará novo leilão da BR-163. A tendência é a CCR MS Via continuar com a concessão, mas com novos termos. Outras empresas poderão participar do certame, mas terão mais dificuldade para ganhar o contrato.
A partir deste ano, a CCR MS passou a divulgar o valor real obtido com a cobrança de pedágio. De acordo com a Motiva, a receita bruta cresceu 57,65%, de R$ 71,4 milhões, no primeiro trimestre do ano passado, para R$ 112,5 milhões em igual período deste ano.
O volume de veículos que pagou pedágio teve pouca variação, de 13.202.469 para 13.416.119 – uma diferença de apenas 213,6 mil carros a mais. O valor médio pago com o pedágio saltou 152,3%, de R$ 3,2 para R$ 8,1, segundo o balanço publicado pela Motiva.
Com a manobra, o resultado foi um lucro extraordinário de R$ 21 milhões, contra o prejuízo de R$ 97 milhões no primeiro trimestre de 2024. Em 2023, a empesa anunciou prejuízo de R$ 59,9 milhões, enquanto em 2022 ficou com saldo negativo de R$ 71,9 milhões.
Só consumidor pagou o pato
O lucro “inédito” mostra que o único prejudicado com a privatização da BR-163 foi o usuário. Não houve a duplicação prometida pelo Governo. A empresa se apoderou da rodovia, não cumpriu as determinações do órgão regulador, não pagou multas nem cumpriu determinação para reduzir o valor do pedágio pela metade.
Apenas as determinações para elevar o valor do pedágio foram cumpridas. E para tristeza do sul-mato-grossense, a rodovia não foi duplicada e a qualidade do pavimento deixa a desejar.