O colapso na saúde de Campo Grande não poupa nem crianças e adolescentes, que sofrem com a falta de insumos e vagas em hospitais e até UTI (Unidade de Terapia Intensiva). O Ministério Público Estadual apura a ocorrência de duas mortes enquanto aguardavam vaga em leitos de UTI apenas nos últimos 10 dias.
Com a situação se agravando desde 2022, apesar de sete reuniões e uma dezena de ofícios sem respostas ou solução efetiva, a promotora Daniella Costa da Silva, da 32ª Promotoria de Justiça da Saúde Pública, ingressou com ação civil pública com pedido de tutela de urgência, na esperança de forçar a prefeita Adriane Lopes (PP) a adotar providências.
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No pedido protocolado na última quarta-feira (14) ao juiz Ariovaldo Nantes Corrêa, da 1ª Vara de Direitos Difusos, Coletivos e Individuais Homogêneos, ela pede a criação, em regime de urgência, de mais 30 leitos de UTI. O pedido também cobra do Governo do Estado para atender a demanda em Dourados, Três Lagoas, Corumbás e Ponta Porã.
“Crianças têm sido mantidas, por dias, em UPAs, CRS e corredores de hospitais, muitas vezes com suporte ventilatório improvisado (como uso de ambus), à espera de vagas em leitos adequados, em clara afronta ao direito constitucional à saúde e à vida”, afirma a promotora, em um grito desesperado que alguém a ouça e faça alguma coisa para estancar a tragédia.
“Esses números evidenciam não apenas a sobrecarga do sistema hospitalar, mas, sobretudo, a ausência de leitos pediátricos em quantidade suficiente para atender à demanda real e recorrente, resultando na manutenção de crianças em situação de risco em ambientes inadequados e sem os recursos mínimos necessários para um cuidado seguro e eficaz”, apontou.
No período da vistoria, realizada nas centrais de regulação do município e do Estado, o MPE apurou que 136 crianças estavam na fila há mais de 24 horas a espera de um leito hospitalar na Capital, enquanto, pasmem, 80 há mais de 48 horas. E algumas estavam internadas em leitos improvisados em UPAs e corredores dos hospitais a espera de vaga em UTI.
Nem emergência resolve
Nos últimos três anos, conforme a promotoria, houve a decretação de emergência em saúde na Capital por causa da explosão no número de casos de SRAG, as síndromes respiratórias, mas que não resultaram em medida efetiva para minimizar o problema.
Vagas em hospitais não são os únicos problemas, unidades de saúde sofrem com a falta de insumos para atender as crianças.
“Não bastasse a falta de leitos, o Relatório apontou a falta de itens importantes na assistência aos pacientes pediátricos, como cateter nasal tipo óculos, tubos traqueais tamanhos 4,5 e 3,5 com cuff, bem como do antibiótico amoxicilina com clavulanato. Referem que algumas mães/responsáveis têm contratado fisioterapeutas particulares para atendimento das crianças que aguardam vaga hospitalar diante da gravidade dos casos, bem como por conta da demora na liberação dos leitos hospitalares”, relatou Daniella da Silva.
“Conforme dados fornecidos pela Central de Regulação Estadual, dois óbitos de crianças foram registrados durante o processo de regulação, ou seja, enquanto aguardavam leito hospitalar nos últimos 10 dias”, lamentou.
O mais grave é que em meio ao colapso na saúde, a prefeita e os vereadores acharam mais importante aprovar o reajuste nos salários da chefe do Poder Executivo, dos secretários e dos próprios parlamentares.