Os servidores administrativos da educação de Campo Grande vão amargar mais um ano sem reajuste salarial. Os trabalhadores tiveram que se contentar com a incorporação de R$ 576 do bolsa alimentação no salário base, dividido em quatro vezes, com a primeira parcela de R$ 144 no próximo mês de novembro. Também há a promessa de recomposição da inflação em 2026, 2027 e 2028.
A situação contrasta com a benesse concedida à prefeita Adriane Lopes (PP) e ao alto escalão do funcionalismo público da Capital. O salário da chefe do Executivo teve reajuste de 66,7% e passará de R$ 21.263,62 para R$ 35.462,22, parcelado em três vezes. Isso cria um efeito cascata que vai beneficiar os servidores com as melhores remunerações. O aumento será de 159% para os secretários municipais.
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Sem reajuste há 3 anos, servidores possuem defasagem de 30% e cogitam greve de alerta
Enquanto isso, 30 mil servidores municipais estão sem reajuste há três anos e acumulam uma defasagem salarial de 30%, segundo o Sisem (Sindicato dos Servidores Municipais de Campo Grande). Em assembleia na última quinta-feira (15), foi discutido melhorias para a categoria dos administrativos da educação.
Dos 1,8 mil funcionários desta área, 95% recebem salário base inferior a um salário mínimo. Neste ano, todos vão receber um incremento de R$ 144 a partir de novembro, que será retirado do vale alimentação, que atualmente é de R$ 1.250. Isso vai se repetir no mesmo mês em 2026 e 2027. Em 2028, ano eleitoral e derradeiro da gestão Adriane Lopes, a incorporação vai ocorrer em abril, perfazendo um total de R$ 576.
A proposta da prefeita aceita pela categoria ainda inclui a promessa de recomposição da inflação nos próximos três anos e recesso de 11 dias em julho. Outro ponto é a taxação de 14% do pró-funcionário.
“O pró-funcionário é um curso que eles fazem, os administrativos, aqueles que têm nível médio, de mais ou menos um ano e meio. E depois que eles fazem esse curso, eles recebem quase 70% do base. Quando começou, o pró-funcionário a ser pago para os servidores era 5%, e através da luta do sindicato hoje está em quase 70% do base do pessoal”, explica Willian Freitas, presidente do Sisem.
“Só que o que acontece. O sonho da categoria era poder aposentar e levar esse valor para aposentadoria também. Só que para poder levar para aposentadoria, tem que ser taxado. Então esse valor de 14% em cima do pró é o que vai ser descontado para eles poderem levar para aposentadoria. Então eles levam somente aquilo que é taxado para previdência, que é os 14%”, completa.
A oferta da prefeitura foi aceita por 410 filiados ao sindicato que participaram da assembleia, enquanto outros 37 votaram contra.
Participação controversa
Ganhou destaque nas redes sociais a participação na assembleia do presidente licenciado do Sisem, Marcos Tabosa (PP). O ex-vereador atualmente é presidente do IMPCG (Instituto Municipal de Previdência de Campo Grande), portanto, subordinado à prefeita Adriane Lopes, além de serem do mesmo partido.
Um vídeo com pouco mais de um minuto mostra Tabosa organizando a votação, o que gerou críticas de descontentes com a proposta da prefeitura, que consideraram a participação do sindicalista como forma de influenciar os colegas. O substituto do pepista, Willian Freitas, descarta qualquer interferência do chefe do IMPCG.
“O Tabosa é presidente licenciado do sindicato, servidor público concursado e filiado ao Sisem. Tem direito a voto e a fala. Fora ele, oito servidores também tiveram um tempo de fala para poder esplanar, para poder dizer o que estava pensando da proposta. Então assim, foi bem democrático o negócio, foi até quente o negócio. Eu fiz a votação do pessoal. A assembleia teve duas horas e meia de duração”, diz Willian.
“Eu vi o vídeo também, ficou bem mal intencionado, mas vivemos em um país democrático e não vamos conseguir agradar todo mundo”, encerra o presidente do Sisem.