A CPI do Consórcio Guaicurus na Câmara Municipal de Campo Grande ouviu o depoimento do ex-diretor-presidente da Agetran (Agência Municipal de Transporte e Trânsito), Janine de Lima Bruno. No entanto, a oitiva do atual chefe da autarquia, Paulo da Silva, ocorrida na semanada passada, ainda teve bastante repercussão na desta segunda-feira (19).
Isso foi sentido já no início da sessão, quando a vereadora Luiza Ribeiro (PT) defendeu a demissão do diretor da Agetran pela não aplicação da determinação do Código de Trânsito Brasileiro de multa em ônibus que circulam superlotados, ou seja, acima de sua capacidade máxima. Paulo da Silva afirmou que só aplica a regra em casos de veículos de passeio particulares.
Veja mais:
Agetran diz que consórcio acumula 17 mil multas e CPI é criticada por expor denúncia sem provas
CPI tem bate-boca, denúncia anônima de dentro da Agereg e 1.726 multas ao Consórcio Guaicurus
Consórcio manda nota “excelente” e prefeitura só assina embaixo, revelam auditores em CPI
“Nós entendemos de solicitar à prefeita a substituição do presidente da Agetran”, declarou Luiza. “Nós enxergamos nas afirmações do diretor-presidente da Agetran que caracterizam como atos de prevaricação e de improbidade. De modo que não tem sentido ele permanecer no cargo dessa maneira. É até melhor a gente fazer essa substituição voluntário logo para que recomece a Agetran com outros passos do que a gente convalidar e concordar, achar que é razoável um diretor que chega aqui perante uma comissão, num contrato caríssimo e importantíssimo como esse, e simplesmente confessa ‘eu prevariquei diante das normas que eu deveria ter aplicado’”.
Durante os questionamentos, quase todos os integrantes da Comissão Parlamentar de Inquérito fizeram questão de perguntar a Janine de Lima Bruno, que comandou a Agetran na gestão Marquinhos Trad (PDT), entre 2017 e abril de 2022, e nos dois primeiros anos de Adriane Lopes (PP), se houve aplicação de multas por superlotação de ônibus. “Não me recordo”, foi a resposta padrão.
Marquinhos, como tem sido de praxe, acompanhou o depoimento do seu ex-diretor e questionou Janine como era seu relacionamento com o antigo chefe em comparação com a atual gestora do Paço Municipal.
“Na gestão do senhor Marquinhos, a gente tinha uma facilidade muito grande de falar com o prefeito. Isso qualquer um aqui pode falar. O Maicon foi secretário, o Coringa, o Luciano que está ali. A gente tinha uma facilidade bastante grande de sentar e conversar, mesmo que fosse alguma coisa urgente que tinha que atender no mesmo dia”, relatou o ex-diretor da Agetran.
“Já com a Adriane a gente tinha bastante dificuldade de marcar e agendar”, completou.
O ex-prefeito defendeu que em sua gestão não houve aumento na tarifa do ônibus, e que os reajustes foram abaixo da inflação da época. “A tarifa teve menos que a reposição inflacionária. A inflação de 2017 a 2022 chegou a 31,38%. A tarifa que era R$ 3,55 passou para R$ 4,75, 28,17%”, informou.
“Aumento mesmo nós vimos no salário da prefeita, que era de 10% e ela teve um aumento de 67%”, aproveitou para alfinetar Marquinhos. O vereador Maicon Nogueira (PP), correligionário de Adriane, não gostou da alfinetada e interrompeu a fala do ex-prefeito.
Marquinhos fez Janine destacar que na sua gestão a prefeitura fez o Consórcio Guaicurus comprar 179 ônibus novos, mesmo com os problemas ocasionados pela pandemia de covid, enquanto a sua sucessora, apenas 71.
Em sua oitiva, Janine revelou que sua empresa prestou serviço ao Consórcio Guaicurus e trabalhou no Tribunal de Contas do Estado por um ano e meio. O ex-prefeito Marquinhos também fez questão de ressaltar que não tinha conhecimento deste histórico e nunca conversou sobre este tema com o antigo subordinado. O ex-diretor da Agetran disse que só conhecia Trad devido ao trabalho como deputado estadual, o mesmo em relação a Lidio Lopes (sem partido), marido da prefeita Adriane.
Ao fim das perguntas do ex-prefeito, Maicon Nogueira cobrou do presidente da CPI, vereador Dr. Lívio (União), resposta ao pedido de oitiva para colher o depoimento de Marquinhos Trad.
Maicon demonstrou contrariedade com entrevista de Marquinho em que o ex-prefeito disse participar mais das sessões da CPI do que alguns integrantes e lembrou que Nogueira faltou à última. O pepista rebateu com a justificativa de que sua avó havia falecido e pediu respeito ao colega.
“Se o senhor não gosta da tua avó e não vai no velório da tua avó, eu peço que o senhor respeite o meu luto”, retrucou o integrante da comissão.