Mário Pinheiro, de Paris – Pela memória do sofrimento histórico causado pelo nazismo, com perseguição e morte de milhões de judeus nos campos de concentração, merece respeito, silêncio e compreensão. Mas há quem diga que a terra gira, o esquecimento bate no fundo da alma, e o episódio do massacre se repete de outra maneira.
Na terra que deveria correr leite e mel, segundo o livro santo, hoje corre sangue, desolação, matança. Não, os judeus não estão no negacionismo do holocausto, mas estão redistribuindo a moeda da tristeza e das lágrimas com a morte de palestinos.
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Expulsos de casas destruídas, sem rumo de um lado para outro, eles perambulam com malotes de roupa na cabeça, vivem sob a fumaça de prédios alvos de drones, da mira de canhões mesmo quando se deslocam sob ordens do exército israelense.
Poderia se dizer que Israel aprendeu a lição. De vítima do holocausto nas terras polonesas, de roubos, estupros e assassinatos, eles fazem pior e com requinte de crueldade. A Palestina não tem exército, não tem aviões de caça, não tem navio, não tem cortina antimísseis, não tem canhões.
A Palestina tem um grupo denominado Hamas que excedeu em suas ações, é verdade, mas nada explica a covardia de um país que invade a terra, envia suas bombas modernas capazes de reduzir a cinzas e matar o maior número possível de civis em sua maioria mulheres e crianças.
A desculpa do primeiro ministro israelense, condenado pela corte penal internacional e com mandado de prisão em aberto, é sempre a mesma, a de exterminar os terroristas, mas intubada em seu vitimismo. Israel, que não é uma democracia por não ter Constituição, é uma teocracia igual ao Irã, se expõe por se sentir protegido por países de extrema direita e pela potência americana.
O resultado desastroso das ações contínuas é o número alarmante de famílias inteiras dizimadas, crianças amputadas, mortas de fome, sem hospital nem escola, proibidos de tudo. Água, migalhas de pão, grãos de arroz e farinha de trigo não chegam no acampamento onde milhões de pessoas não comem porque Israel não permite.
Esta semana, houve uma abertura, um acesso super controlado num campo para recuperação de algo pra comer e beber, mas a multidão, quem pôde, correu pra fugir de bombas atiradas por canhões israelenses nas proximidades do centro de distribuição num ato de covardia.
Os crimes de guerra cometidos por Israel são numerosos. Depois do início do conflito, dezenas de milhares de reservistas foram chamados para compor a linha de frente, mas hoje há aqueles que rejeitam e se negam ir para Gaza, porque o único objetivo é exterminar e fazer limpeza étnica do povo que ainda resiste.
O massacre, ou melhor, o genocídio está em ação. A intenção não é mais recuperar vítimas do sequestro, mas o extermínio e ocupar ainda mais o território palestino. Até o momento 54.600 palestinos, na maioria civis, morreram. Há um número relevante de ações judiciais vindos da Suíça, Holanda, Alemanha, França e África do Sul contra o genocídio.
Enquanto isso o Ocidente esperneia, acusa, lamenta, mas é preciso bloquear o envio de peças para o armamento bélico israelense a exemplo dos funcionários do porto de Marselha que se negaram a encher containers para Israel. Da mesma forma fez o primeiro-ministro espanhol em recusar enviar armas num montante que ultrapassa R$ 1 milhão.