Albertino Ribeiro – Quando ainda estava na universidade, era comum ouvir dos professores que a “economia é como um cobertor curto; se você cobrir a cabeça vai descobrir os pés e vice-versa”. Essa frase mostra que trabalhar com a ciência da escassez é uma tarefa muito árdua.
Às vezes uma boa notícia em determinado país pode significar um desespero para o outro; isso porque o mundo de hoje está muito conectado, inclusive, obviamente, os mercados. Desta forma, as reações a variações econômicas em qualquer lugar do mundo é quase que imediata.
Veja mais:
Economia Fora Da Caixa – O que parece ser o forte, na verdade é a fraqueza do PIB brasileiro
Economia Fora Da Caixa – Inteligência Artificial e a torre de Babel
Economia Fora Da Caixa – Falácia da composição: Orçamento público é igual ao de uma família?
Na semana passada, nos EUA, saiu o relatório Payroll, uma pesquisa que mede a força do mercado de trabalho americano, que informa, pelo número de contratações, se a economia está aquecida ou não. No Payroll da última sexta-feira, o número de contrações foi de 139 mil, acima do esperado pelo mercado que era de 125.000; este resultado fez a bolsa americana bater novamente em sua máxima, pelo fato do mercado de trabalho ainda estar forte.
Entretanto, nem tudo são flores. Essa leitura de que o mercado está aquecido é bom só até certo ponto. Como já aconteceu outras vezes, um número muito alto de contratações pode levar o banco central americano (Federal Reserve) a colocar o pé no freio da economia, subindo a taxa de juros. Esse movimento do banco central obrigará o mercado a ter mais cautela, levando a uma queda nas negociações.
E o que pode acontece no Brasil? Um aumento muito grande nas contratações americanas – como foi dito no parágrafo anterior -, além de fazer o banco central aumentar a taxa de juros, pode provocar uma grande saída de dólares no Brasil. Por que? Estes dólares migrarão para os títulos da dívida pública americana, que são os mais seguros. Como o mercado busca segurança e rentabilidade, encontra nos papeis do “tio Sam” uma combinação perfeita.
Por aqui, esse movimento pressiona a inflação que vai impactar direto no bolso das famílias brasileiras. A situação piora porque o Banco Central brasileiro, para impedir o crescimento dos preços, aumenta a taxa de juros. Entendeu a intrincada teia, leitor?
Para termos uma ideia, a queda do desemprego aqui no Brasil tem sido fonte de preocupação. “Como assim”? Pelo mesmo motivo discorrido até agora. Um mercado de trabalho aquecido, além de aumentar a demanda por bens e serviços, torna a mão-de-obra mais cara; esse conjunto de fatores pode novamente pressionar a inflação.
Então, como você pode ver, as coisas não são muito simples. Não existe uma solução absoluta para os problemas econômicos. Esse entrelaçamento da economia mundial tornam as previsões econômicas um grande desafio para economista e até mesmo para pessoas que julgam ter bola de cristal. É tudo muito sensível; o equilíbrio da economia está sempre vulnerável a efeitos externos e internos; vai prevalecer o efeito que for mais forte.