O 12º dia de depoimentos na CPI do Consórcio Guaicurus na Câmara Municipal de Campo Grande foi dedicado a ex-funcionários das empresas de ônibus que controlam o serviço do transporte público da Capital. Um motorista e um bilheteiro relataram jornadas de trabalho superiores a 10 horas e condições precárias de trabalho, como cabine sem ar-condicionado, falta de horário para almoço e veículos com problemas que colocavam em risco trabalhadores e usuários.
O primeiro a falar foi o motorista Weslei Conrado Moreli, que trabalhou nas empresas Jaguar e Cidade Morena entre o fim de 2019 e 2024. Ele relatou que pediu demissão por não aguentar mais as condições de trabalho que o deixavam “doente”. Uma das histórias vivenciadas foi quando, certa vez, estava em uma subida na Rua 13 de Junho, próximo da Avenida Mato Grosso, no Centro, e teve medo de o ônibus parar e voltar de ré, pela falta de potência no motor.
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“Faltava freio, o painel de velocidade não funcionava, chovia dentro do ônibus. A gente não conseguia saber nem a velocidade que estava na pista”, descreveu. Weslei afirmou que por falta de funcionários, teve de trabalhar até 11 horas por dia, sem parar para descansar ou fazer refeições.
Quando trabalhou como manobrista na Jaguar, Weslei disse que fazia horas extras, mas a empresa exigia que não fossem marcadas e não era realizado o pagamento. Ele destacou ser comum colegas, com 7 horas e 20 minutos de carga horária, trabalharem até 10 horas e em dias de folga por falta de mão de obra contratada.
Os períodos de descanso ocorriam quando parava nos terminais, em pausas com cerca de cinco minutos, que totalizavam até 25 minutos por dia, quando aproveitava para comer algo. “A gente pegava um salgadinho e ia embora”, informou.
“O transporte público dentro de Campo Grande é desumano”, disparou Weslei, que depois de se afastar por motivos de saúde, decidiu pedir demissão e hoje trabalha como motorista, em condições melhores, em Florianópolis, capital de Santa Catarina. Responsável pelas linhas 061 (Moreninhas) e 087 (Guaicurus-General Osório), era comum viagens com o ônibus superlotado.
Na sequência, a CPI ouviu Gabriel da Silva Souza Almeida, que atuou por seis meses no setor de bilhetagem do Consórcio e denunciou condições de trabalho insalubres, como a ausência de ar-condicionado nas cabines, que viravam verdadeiros fornos ao sol, e a falta de assentos adequados. Ele também relatou práticas de assédio moral e pressão constante por parte de supervisores.
“Após apresentar atestado médico relacionado à coluna, passei a ser alvo de perseguições por parte da chefia, principalmente nas escalas. Isso agravou meu estado de saúde e contribuiu para um quadro de esgotamento psicológico, motivo que me levou a deixar o emprego. Só agora, com mais estabilidade emocional, sinto-me apto a buscar meus direitos”, declarou.
Gabriel contou que as jornadas ultrapassavam a carga horária contratual de 7 horas e 20 minutos, chegando até 10 horas, muitas vezes sem intervalos para descanso e alimentação.
Após os relatos dos trabalhadores, os integrantes da Comissão Parlamentar de Inquérito aprovaram o encaminhamento dos depoimentos ao Ministério Público do Trabalho para instauração de procedimento.