Com apenas R$ 410 nas contas bancárias, o ex-vereador de Campo Grande, Claudinho Serra (PSDB), trafegava com carro de luxo e morava em apartamento onde o aluguel mensal custava mais de R$ 10 mil por mês. Esses indícios de ocultação de patrimônio e lavagem de dinheiro embasaram o pedido de prisão preventiva pela 3ª Promotoria de Justiça de Sidrolândia.
A prisão do genro da ex-prefeita Vanda Camilo (PP) foi decretada pelo juiz Bruce Henrique dos Santos Bueno Silva, da Vara Criminal de Sidrolândia, e cumprida na última quinta-feira (5) com a deflagração da Operação Tromper 4. Ontem, o desembargador José Ale Ahmad Neto, do Tribunal de Justiça de Mato Grosso do Sul, negou habeas corpus para o tucano.
Veja mais:
Desembargador nega HC e Claudinho Serra vai continuar preso por desvios em Sidrolândia
Apesar de sofrer de depressão e ansiedade, Claudinho Serra vai continuar preso
MPE prende dono de construtora e cumpre mandado de busca contra filha de Vanda
Acusado de comandar uma organização criminosa para fraudar licitações e desviar recursos da prefeitura, Claudinho Serra é suspeito de usar o ex-assessor, Carmo Name Júnior, e o pai, Cláudio Serra, para ocultar valores. Em maio do ano passado, a Justiça decretou o bloqueio de R$ 12 milhões do ex-vereador, mas só localizou R$ 410.
“Isso é, considerando os sinais exteriores de riqueza, como, por exemplo, padrão de moradia, veículos etc. é válido questionar a possibilidade de movimentações atípicas para esvaziar a conta antes da ordem judicial”, apontou o Ministério Público Estadual.
“Ainda que tivesse despesas mensais, seria esperado que houvesse um saldo condizente com sua renda, reforçando a suspeita de ocultação patrimonial”, afirmou. De acordo com a investigação, o tucano anda em uma Toyota SW4 preta, que oficialmente está registrada em nome de uma empresa. O veículo custa entre R$ 290 mil e R$ 350 mil.
“Apontando que Claudio Serra Filho utiliza contas de terceiros para pagar suas despesas, em uma das mensagens Carmo pede para Tom ir até o Santander sacar um dinheiro que irá passar para ‘cf’ (claudio filho). Tom pergunta se é muito e Carmo diz que é 17mil reais”, indicou a promotoria, citando mensagens.
O MPE diz que o aluguel do apartamento no Jardim dos Estados, onde Claudinho foi preso, custa R$ 10 mil por mês, em média, sem considerar o condomínio e o valor do IPTU. Já a casa no Damha, onde residiu, o aluguel estaria em torno de R$ 7 mil.
“Em outro diálogo, Carmo Name, se referindo a Claudio Serra, diz que precisa pagar o aluguel e Tom responde dizendo que ‘ele deixou o dinheiro aqui comigo, os 14 mil, para mim levar lá para pagar a mulher, agora ele ta tentando falar com ela e eu vou ter que levar o dinheiro’”, apontou, sobre outras mensagens.
“Isso, pois, configura um indício claro de ocultação, uma vez que o registro em nome de terceiro dificulta não só a identificação do verdadeiro proprietário, como a restrição por meio de bloqueio judicial sobre o bem. Em outros dizeres, a prática de registrar bens em nome de empresas é comum em esquemas de lavagem de dinheiro e blindagem patrimonial, sendo utilizada para dificultar a identificação de bens do investigado e frustrar eventuais medidas constritivas”, destacou o MPE.
Empréstimo de R$ 1 milhão
O MPE também apontou a evolução patrimonial de Claudinho Serra de 141% entre 2021 e 2022, de R$ 311 mil para R$ 750,1 mil. Ainda destacou a declaração no Imposto de Renda de R$ 350 mil em dinheiro, que não foi localizado no cumprimento dos mandados de busca e apreensão da Operação Tromper 3.
“Ou seja, se declarou oficialmente a posse de valores em espécie ao fisco, presume-se que esses valores deveriam estar sob sua guarda ou em local seguro compatível com a sua versão”, ponderou a promotoria. “No mais, a prática de manter grandes quantias em espécie já é, por si só, um indicador de lavagem de dinheiro, já que impede o rastreamento financeiro convencional, reforçando a intenção deliberada em evitar que os valores fossem vinculados aos crimes investigados”, concluiu.
Outro caso foi o empréstimo de R$ 1 milhão obtido junto a um deputado estadual. A quebra do sigilo bancário apontou que o parlamentar depositou R$ 245 mil ao ex-vereador. “A declaração de um mútuo (empréstimo) desse montante é comumente utilizada como estratégia contábil para mascarar incrementos patrimoniais incompatíveis com a renda oficial ou provenientes de fontes ilícitas”, suspeitou o MPE.
Além de Claudinho, o juiz Bruce Henrique decretou a prisão preventiva de Carmo Name Júnior e do empresário Cleiton Nonato Corrêa.