No esquema de ocultação e lavagem de dinheiro desviado da Prefeitura de Sidrolândia, o Ministério Público Estadual aponta que o ex-vereador Claudinho Serra (PSDB) utilizou seu assessor e braço direito, Carmo Name Júnior, como “caixa de propina”, cuja conta bancária servia para o pagamento de despesas pessoais do chefe e a esposa dele, Mariana Camilo Serra, filha da ex-prefeita Vanda Camilo (PP).
Poucos dias depois de Claudio Serra Filho assumir como secretário de Administração e Finança na gestão da sogra na prefeitura de Sidrolândia, em março de 2022, Ueverton da Silva Macedo transferiu via PIX o valor de R$ 50 mil para Carmo Name. O empresário utilizou conta bancária própria e de familiares, como forma de dificultar o rastreamento e a integração de Claudinho como beneficiário final do esquema de lavagem de dinheiro, segundo o MPE.
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Carmo Name, então, assume “relevante papel na trama criminosa”, com a responsabilidade de gerenciar o fluxo financeiro ilícito, incluindo o recebimento e a dissimulação dos recursos. Em uma ocasião, o assessor pagou R$ 1.386 para contratação de buffet e salão de festa infantil para a família de Claudinho.
A investigação identificou outros R$ 42.264,53 utilizados para pagamento de parcelas referentes a três lotes registrados em nome de Cláudio Serra Filho. “Em outros dizeres, a quitação das parcelas em lotes de titularidade de Cláudio Serra Filho demonstra que Carmo Name não apenas movimentava recursos ilícitos, mas também os utilizava para cumprir obrigações financeiras do chefe do esquema”, diz o MPE.
Também foram identificadas transferências realizadas para a empresa MedMari Serviços Médicos Atividade, pertencente à esposa de Claudio Serra, no dia 10 de agosto de 2022, no valor de R$ 4.700,00 e no dia 30 do mesmo mês, no valor de R$ 10 mil.
A análise dos dados financeiros de Carmo Name revelou também a utilização da conta bancária de Sarah Vilalba de Andrade como um possível caixa para movimentação de propinas, tendo em vista a existência de transações de valores “significativos” que somam R$ 127 mil em janeiro de 2024.
Durante o cumprimento de mandado de busca e apreensão da Operação Tromper na residência de Carmo Name, foi localizado em seu quarto um cartão bancário em nome de Sarah Vilalba de Andrade e anotação no celular dele com a descrição: “cartão sarah senha”.
“Essas evidências demonstram que Carmo Name não apenas possuía acesso ao cartão bancário de Sarah, mas também utilizava esse recurso de forma sistemática”, relata o Ministério Público Estadual.
Lava Jato como fachada
Outras movimentações bancárias também foram identificadas como suspeitas, como é o caso do estabelecimento denominado “Lava Jato do Turquinho”, que movimentou R$ 141 mil durante 2023. A empresa estava em nome de Carmo Name e não estava em funcionamento desde o ano de 2021. Ou seja, as transações demonstram que a movimentação financeira não poderia ser fruto de atividades legítimas.
Em julho de 2023, Carmo Name recebeu um crédito no valor de R$ 70 mil de sua esposa, e cinco minutos depois transferiu parte deste valor, R$ 30 mil, para o lava jato. Em quatro dias, foram R$ 95 mil para a empresa que estava desativada.
“Essa periodicidade e o fracionamento reforçam a hipótese de que as movimentações tinham o objetivo de ocultar a origem ou a destinação final dos valores”, argumentam as promotoras de Justiça.
Claudinho Serra também recebeu transferências da conta da esposa de Carmo Name.
As provas angariadas pela investigação demonstram que tanto Valdemir Santos Monção (“Nanau”) quanto Thiago Rodrigues Alves também fazem uso de terceiros, em especial suas esposas, como estratégia para dissimular a origem dos recursos provenientes de propinas. Em 2022, Carmo Name recebeu R$ 25.550 enviados pelas contas das mulheres dos suspeitos.
A prisão preventiva de Claudinho Serra, do ex-assessor Carmo Name Júnior, do empresário Cleiton Nonato Corrêa, foi decretada pelo juiz Bruce Henrique dos Santos Bueno Silva, da Vara Criminal de Sidrolândia, e cumprida no dia 5 de junho, com a deflagração da Operação Tromper 4. O desembargador José Ale Ahmad Neto, do Tribunal de Justiça de Mato Grosso do Sul, negou habeas corpus para o tucano.