A 5ª Vara Federal de Campo Grande marcou para fevereiro e março de 2026 o julgamento da organização criminosa acusada de usar estabelecimentos comerciais de pequeno porte para lavar uma fortuna proveniente do tráfico internacional de drogas. O negócio familiar movimentou R$ 80 milhões em quatro anos, entre 2017 e 2021, na fronteira com a Bolívia, e uma das principais rotas do tráfico de drogas em Mato Grosso do Sul.
Entre os réus está o ex-vereador de Corumbá Allex Dellas (PDT), que foi líder do então prefeito Marcelo Iunes (PSDB) durante a legislatura encerrada em 2024. O esquema criminoso foi desvendado na Operação Mamon, deflagrada pela Polícia Federal em abril de 2021, e denunciado pelo Ministério Público Federal. As investigações apontaram que a organização criminosa era composta por acusados pertencentes a duas famílias.
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Com uma dezena de réus, as audiências de instrução e julgamento foram designadas para os dias 24 e 25 de fevereiro de 2026, e prosseguem nos dias 10, 11, 12, 17, 18 e 19 de março, a partir das 13h30 (horário oficial do Mato Grosso do Sul). No primeiro dia, serão ouvidos agentes da Polícia Federal e, no dia seguinte, as testemunhas de acusação.
As testemunhas de defesa serão ouvidas em março, sendo que as indicadas pelo ex-vereador Allex Dellas, no dia 11. O interrogatório dos réus encerra a fase de instrução processual nos dias 18 e 19. As audiências serão realizadas presencialmente, mas permitido por videoconferência em alguns casos.
Apesar de o processo tramitar no mais absoluto sigilo, o despacho com as datas foi publicado no Diário de Justiça Eletrônico desta quarta-feira, 18 de junho.
Negócios em família
De acordo com a denúncia do MPF, o negócio familiar movimentou R$ 80 milhões em quatro anos, entre 2017 e 2021, na fronteira com a Bolívia, e uma das principais rotas do tráfico de drogas em Mato Grosso do Sul. A família Della é capitaneada por Ale Tahir Della, que empreendia seus dois filhos, Matheus Prado Della e o vereador Allex Prado Della (que usa no nome político o último sobrenome no plural).
Já a família Martins tem como líder Ioneide Nogueira Martins, o ‘Paraná’, que se associou com os irmãos, Ademilson Dias Bezerra, conhecido como ‘Paranazinho’, e Maria Lúcia Martins, e ainda com o sobrinho, Lukas Martins Nogueira, e a cunhada, Mayara Pinho Tucan.
Um mercadinho movimentou R$ 63 milhões, sendo a maior parte proveniente do cartão de crédito. O outro negócio rocambolesco era uma conveniência de Corumbá, que faturou R$ 23 milhões e vendia até para clientes de Belo Horizonte, capital de Minas Gerais localizada a 1.600 quilômetros de distância.
O principal meio para ocultar a fortuna era a utilização de cartões de crédito para efetuar compras fantasiosas, de forma a aparente o negócio de grande movimentado de compra e venda. No entanto, o local possuía pequeno fluxo de clientes.
Em um dos estabelecimentos investigados, cerca de 90% do faturamento vinha de cartões de crédito dos próprios integrantes da família.
Os réus foram denunciados pelos crimes de organização criminosa, de caráter transnacional, e lavagem e ocultação de bens. Além das penas de prisão, o MPF pede a fixação de indenização por danos morais coletivos, em valores que chegam a R$ 2 milhões para os líderes do esquema.