O economista Renato Wanderley Gomes ficou bastante assustado ao ser atacado nesta quinta-feira (3) durante a sessão da Câmara Municipal pelo vereador André Salineiro (PL). “Eu apontei a incongruência dele sobre aqueles que trabalham, dizendo que ele votou para aumentar o próprio salário e agora se diz contra alivio do trabalhador mais pobre”, contou, após ser chamado de “seu bosta” pelo parlamentar bolsonarista.
Gomes foi ao legislativo para acompanhar a votação da LDO (Lei de Diretrizes Orçamentárias), marcada pela polêmica da suplementação orçamentária. Adriane Lopes (PP) pediu para elevar o índice para 30%, mas a base aliada decidiu manter em 15%. Os vereadores de oposição, como Luiza Ribeiro (PT) e Marquinhos Trad (PDT) defenderam 10%.
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A confusão começou no final da votação após o vereador Jean Ferreira (PT) criticar a bancada bolsonarista por votar contra emenda do PT por considerar a ideologia e não o que seria melhor para Campo Grande.
Salineiro criticou o petista e condenou o movimento pelo fim da jornada de 6×1. Policial federal, ele afirmou que a esquerda queria folgar quatro dias e trabalhar apenas dois. Como vereador, Salineiro e Ana Portela (PL), que se juntou no deboche, ganham R$ 26 mil e trabalham duas vezes por semana, já que as sessões da Câmara Municipal acontecem apenas às terças e quintas-feiras.
“O André começou a debochar das pessoas que buscam diminuir a carga horária 6×1. Por entender que somos escravizados pelos banqueiros, aonde os políticos mantêm esse regime usurário de dividas sob nossas costas, eu reconheço como justa a demanda dessas pobres pessoas”, analisou Gomes.
“E não acho justo o deboche aos que reivindicam isso, hoje entendo perfeitamente que são a ponta mais fraca, escravizados pelo sistema financeiro”, avalizou o economista, que já manteve um alinhamento com a direita.
“Eu levantei ao final da fala dele e falei em voz alta – ‘você votou para aumentar seu próprio salário, seu posicionamento é uma farsa”, relembrou Renato Gomes. Salineiro votou em abril para aumentar em 66% o salário da prefeita Adriane Lopes (PP) e, automaticamente, acabou elevando o teto do funcionalismo, o que permitiu que o salário do vereador passasse de R$ 19 mil para R$ 26 mil.
“Daí, então, ele ficou bastante irritado e nervoso, me xingou de “seu bosta”, e parecia que iria vir me atingir pessoalmente, mas eu fiquei ali mais ou menos centro da galeria, pois estava escoltado por dois guardas”, narrou o economista.
“Ficamos lá, eu falando isso e ele se defendendo, pedindo pra eu ‘mostrar meu trabalho’, oras eu sou economista, já atendi mais de 300 clientes no meu escritório, ainda os atendo todos os dias, sou um cidadão revoltado com a hipocrisia”, relatou.
“No entanto pareceu que ele ficou muito mais tenso do que eu”, avaliou. “Fiquei pensando ’ele anda armado, faz sentido ele ser desequilibrado e ter porte de armas?’”, questionou o economista.
“Porque eu fiz apenas um comentário e ia me retirando, mas ele passou a quase sair do cercadinho e vinha na minha direção, quando os colegas o seguraram”, contou. O presidente da Câmara, Papy (PSDB), chegou a pedir para segurarem o parlamentar.
Outra visão da política
Sobre a postura política, Renato Gomes diz que passou a ter outra visão. “Eu sentei pra ouvir uma fala do Jean do PT, a quem eu não tenho nenhuma ligação, até mesmo porque eu não me alinho ao PT, mas é uma pessoa que as vezes eu acho que acerta mais do que o PL”, avaliou.
“Aliás essa foi minha surpresa ao conhecer melhor a política, tomar conhecimento que a esquerda por muitas vezes reivindica de forma mais justa do que o outro lado”, contou.
“Eu já venho mostrando a incongruência do PL, em quem eu um dia acreditei e hoje – tendo me decepcionado – faço questão de mostrar as inconsistências”, contou.