A quarta-feira, 2 de julho, foi de tristeza para o professor doutor Marco Aurélio Stefanes. Em poucas horas, o pesquisador viu o trabalho de 20 anos ser desmontado com o despejo do Centro Tecnológico de Eletrônica e Informática da UFMS (Universidade Federal de Mato Grosso do Sul). Um caminhão foi ao local e levou os equipamentos. “É como amputar as pernas de um atleta”, compara o coordenador do CTEI.
Ex-presidente da Associação dos Docentes da universidade (Adufms), Marco Aurélio foi candidato a reitor da UFMS em duas ocasiões, e perdeu ambas. A primeira para Marcelo Turine, em 2016, e a segunda no ano passado, para Camila Celeste Brandão Ferreira Ítavo, atual reitora. O professor da Faculdade de Computação acredita que há relação entre a disputa eleitoral e o desmanche do CTEI. “Eu não vejo outra justificativa para isso, que não seja uma retaliação”, diz.
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Stefanes conta que o Centro Tecnológico de Eletrônica e Informática foi inaugurado em 2009, com o objetivo de criar um polo tecnológico em Campo Grande. O projeto envolvia a UCDB (Universidade Católica Dom Bosco), a Uniderp e o Instituto Federal (IFMS). Um acordo estabeleceu a sede na UFMS e aportes do Ministério da Ciência e Tecnologia garantiram quase R$ 2 milhões.
O professor afirma que foi perdendo apoio dentro da universidade depois de disputar a reitoria em 2016. No último mês de dezembro, foi informado pela diretoria da Faculdade de Computação sobre a intenção de realocação do CTEI em outro espaço da UFMS, sem que houvesse justificativa para tanto ou ato oficial administrativo para a mudança.
Marco Aurélio diz que apresentou relatórios informando sobre os 15 projetos em andamento e produção científica do grupo que coordena, que envolve mestrando e doutorandos. A preocupação dele é sobre as condições do novo espaço para o CTEI.
“Perguntei se tinha recurso para realocar, se o espaço tinha um projeto elétrico, projeto de refrigeração. Porque os equipamentos que estão lá são muito sofisticados, é um cluster, com mais de 100 computadores, mais de 100 servidores. Tem máquinas de prototipagem, tudo isso que são equipamentos bem sofisticados, que tem um transformador próprio, tem um gerador próprio de energia. Não houve resposta”, explica.
Sem aviso prévio, na quarta-feira (2), aconteceu o “despejo”, acompanhado pelo pró-reitor de Administração e Infraestrutura, Hércules Sandim. “Baixou lá um caminhão dizendo que ia levar tudo”, diz Stefanes. O professor recebeu relato de que os equipamentos estavam sendo jogados sem qualquer cuidado.
“Estão desmantelando todo o laboratório, que são 20 anos de trabalho que a gente fez e com recursos volumosos, que a gente conseguiu via projetos. Não vejo justificativa de qualquer natureza pra fazer essa mudança. Depois, não é uma mudança, é um despejo, né? Eles falaram que iriam redistribuir, mas não falaram para onde iria”, conta.
Marco Aurélio declara que seu sentimento, ao saber do “despejo”, foi de “uma vida academia sendo destruída em poucas horas” e também pelo como foi tratado.
“A situação me chocou bastante. O jeito que a gente foi tratado. É amputar as pernas de um atleta. Assim, você tirar o laboratório de um pesquisador é impedir que ele continue trabalhando, sabe? Acho que a gente deve à sociedade. Deve como funcionário público prestar o serviço que precisa e é necessário ter condições razoáveis nesse sentido”, defende.
Em nota, a Agência de Comunicação da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul informa que o Centro Tecnológico de Eletrônica e Informática será transferido para um complexo de laboratórios e que a mudança é apenas referente à reorganização dos espaços na UFMS.
“A partir da nova direção da Faculdade de Computação (Facom) e articulação com a Faculdade de Ciências Humanas (Fach), foi criado um complexo de laboratórios, reunindo o CTEI, o LIA, o LEDES, o LSCAD, o LEC, o LEXA, entre outros, todos em desenvolvimento na Facom, que está localizado na entrada do Setor 1 – Bloco 4, na Cidade Universitária. O CTEI será transferido para esse espaço para pleno desenvolvimento e o local onde estava será devolvido à Fach para expansão de suas atividades. A mudança é apenas referente à reorganização dos espaços na UFMS”, descreve a universidade.