Um cozinheiro de Campo Grande é dono de uma fintech que teria recebido R$ 270 milhões dos R$ 840 milhões desviados de diversos bancos brasileiros no maior furto da história. A Polícia Civil de São Paulo suspeita que Estevan Paz Bastos, 37 anos, é laranja da Soffy Soluções de Pagamentos, porque ele não teria condições de comprar a empresa e nunca atuou no mercado financeiro.
O campo-grandense foi citado pelo O Bastidor e pelo site Metrópoles como um dos investigados pela Polícia Civil. Além de ter atuado como cozinheiro e chef em cinco restaurantes, Bastos é oficialmente dono da Distribuidora Peixe Boi, na Capital sul-mato-grossense, mas que também seria laranja, conforme investigação do Ministério Público Estadual.
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Natural de São Luiz Gonzaga (RS), Estevan Paz Bastos cresceu e viveu em Campo Grande. Ele nunca atuou no mercado financeiro até se tornar dono da fintech envolvida no furto milionário.
De acordo com Bastidor, Bastos assumiu a Soffy em maio deste ano, quando a empresa tinha o capital social de R$ 1 milhão. As cotas foram repassadas por Guilherme Henrique Bernardes. A Polícia Civil de São Paulo diz que Stevan Paz Bastos não tinha condições nem dinheiro para comprar a empresa.
Do início
A Soffy foi aberta em 2020 em Atibaia com o nome de Banco Agils, em nome de Henrique Olher e da BMB Serviços de Pagamentos, de Josiane Alves Apolinário. O capital social era de R$ 100 mil.
Em 2023, a Soft Desenvolvimento de Softwares e BMB Instituição de Pagamentos, de Rodrigo Antônio Bernardes de Freitas, entraram no Banco Agils e elevaram o capital social para R$ 1 milhão.
Em 2024, a Soft e a BMB Instituição de Pagamentos transferiram 100% das cotas da Soffy para Guilherme Henrique Bernardes de Freitas, parente de Rodrigo, e dono de uma outra empresa, a Gbf Comercio de Produtos Congelados Ltda, que também fica em Atibaia. Rodrigo recebeu R$ 4,9 mil de auxílio emergencial durante a pandemia da Covid-19, que o Governo federal pagou para pessoas em situação de vulnerabilidade social.
A Soffy, embora com outro dono formal, permanecia no controle da mesma família até maio. As conexões da família Bernardes de Freitas vão além. Atualmente, a BMB Instituição de Pagamentos tem entre os sócios Guilherme, Rodrigo e Joselaine Apolinário de Freitas. Ela é parente de Josiane, uma das primeiras donas formais da Soffy, quando ainda se chamava Banco Agils. Todos eles possuem outras empresas ou são sócios em diferentes CNPJs.
O controle da Soffy foi repassado por Guilherme para Stevan Paz Bastos, o cozinheiro, em maio deste ano. Segundo as investigações, os R$ 270 milhões desviados foram mantidos pela Soffy em uma “conta bolsão”, vinculada a outra instituição financeira.
Como mostrou o Bastidor, a Soffy não aparece no cadastro do Banco Central com autorização sequer para operar como instituição de pagamento.
Como essas pequenas fintechs não têm autorização para fazer operações bancárias, usam uma “conta bolsão”, vinculada a bancos tradicionais – estes, sim, autorizados pelo Banco Central a realizar operações com crédito, débito e Pix.
Era assim que a Soffy funcionava à margem do sistema financeiro. A prática de manter pequenas empresas do tipo da Soffy é muito usada por organizações criminosas para lavar dinheiro e evitar bloqueios judiciais.
O Bastidor tentou contato com Stevan por meio de dois telefones, mas não obteve retorno.