A tarifa de 50% do presidente Donald Trump ameaça a produção de carne bovina, celulose, ferro bruto, filé de tilápia e fécula de mandioca em Mato Grosso do Sul, considerando-se os principais produtos exportados para os Estados Unidos. A terra do Tio Sam é o 2º maior comprador do Estado e só no primeiro semestre deste ano exportou US$ 315,4 milhões – o equivalente a R$ 1,7 bilhão.
Os frigoríficos foram os primeiros a sentir o impacto e já suspenderam a venda de carne bovina para o mercado americano, segundo Sérgio Capuci, vice-presidente do Sicadems (Sindicato das Indústrias de Frios, Carnes e Derivados de Mato Grosso do Sul). As unidades continuam com os abates porque apostam no direcionamento do produto para o mercado interno, o Chile e o Oriente Médio.
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De acordo com o economista Aldo Barrigosse, especialista em mercado internacional, os EUA são o segundo maior comprador da carne sul-mato-grossense. Foram US$ 142 milhões (na cotação de ontem representa R$ 788 milhões) apenas de janeiro a junho deste ano. Da produção de ferro gusa, 68% é vendida para os Estados Unidos.
“Carne bovina, celulose, ferro bruto, filé de tilápia e fécula de mandioca estão entre os produtos que sentirão o peso desse ‘tarifaço’. A consequência imediata será a drástica redução da competitividade de nossos produtos no mercado americano”, avalia Barrigosse.
“Para os consumidores dos EUA, isso significará preços mais altos, com potencial impacto na inflação local. Já para os produtores sul-mato-grossenses, a realidade será a busca urgente por novos mercados ou, na pior das hipóteses, uma retração nas vendas, com reflexos diretos na economia do estado”, previu.
Produção de peixe
Segundo Barrigosse, um dos setores mais afetados com o “tarifaço” será a exportação de tilápia. Apenas no primeiro semestre deste ano, o Estado exportou US$ 3,9 milhões em tilápia para os Estados Unidos, que representa 99% do montante exportado, segundo o economista.
O frigorífico Bello Alimentos, em Itaporã, exporta de 20% a 25% da produção para o mercado norte-americano, segundo o gerente de exportação, José Charl Noujaim. No entanto, a produção segue normal, de acordo com ele, porque o produto leva três dias para sair de Mato Grosso do Sul e chegar aos EUA de avião.
No entanto, caso Trump mantenha a ameaça de punir a economia brasileira com a tarifa de 50% porque o Supremo Tribunal Feral não suspendeu a ação contra o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), a empresa poderá sofrer o impacto.
A indústria em Itaporã gera mil empregos diretos e outros 3,5 mil indiretos. A empresa é responsável desde a criação do peixe até o abate. O frigorífico tentará direcionar o excedente não vendido para os americanos para o mercado interno. Noujaim acredita que o “tarifaço”, caso seja implementado, não deverá durar muito, porque é prejudicial para ambos os países.
Capuci acredita que os frigoríficos, a princípio, não deverão promover demissões em massa porque vão direcionar a carne, o couro e os produtos excedentes para outros mercados. “Por enquanto, vamos colocar no mercado interno”, prevê.
Impacto danoso a longo prazo
O economista Aldo Barrigosse prevê impactos expressivos na economia brasileira e sul-mato-grossense, principalmente, porque, além de 2º maior comprador, os Estados Unidos também é um dos maiores investidores no País.
“É crucial lembrar que os Estados Unidos são o maior investidor direto no Brasil. Essa guerra comercial pode não apenas frear o fluxo de novas empresas e empregos gerados por aqui, mas também levar esses importantes recursos para longe do nosso país”, alerta.
“Diante desse cenário, a diplomacia surge como o caminho mais sensato. Acredito que as instituições que representam o setor produtivo brasileiro irão pressionar o governo a buscar um diálogo efetivo com a gestão americana. Afinal, essa tarifa, como está proposta, não beneficia nenhum dos lados, prejudicando o comércio e as relações entre as duas nações”, avalia.
O maior destino das exportações de MS é a China (US$ 2,4 bilhões), seguido pelos Estados Unidos (US$ 315,4 milhões), Argentina (US$ 216,9 milhões), Itália (US$ 206,4 milhões), Holanda (US$ 200,9 milhões), Uruguai (US$ 156 milhões), Chile (US$ 112 milhões) e Turquia (US$ 110,8 milhões).