Pelo menos 800 mil doses da vacina MPOX prometidas pelo governo dos Estados Unidos para ajudar os países africanos a enfrentarem o surto da doença não serão enviadas e serão destruídas. Os imunizantes foram garantidos no governo democrata, mas o envio foi cancelado pelo atual governo, republicano, após o corte de ajuda às entidades que ajudam países mais pobres.
A decisão pode ter impacto para outros países, porque a doença tem elevado potencial de transmissibilidade. A MPOX causa erupções cutâneas e pode levar à morte. Agora, as vacinas não serão enviadas por estarem próximas do vencimento, expiram em seis meses, conforme alerta dos Centros de Controle e Prevenção de Doenças da África.
Em entrevista ao periódico O Político, o gerente adjunto de incidentes do CDC África (sigla em inglês para Centro de Controle de Doenças) Yap Boum afirmou que “para que uma vacina seja enviada a um país, são necessários seis meses, no mínimo, de antecedência antes do vencimento para garantir que ela chegue em boas condições e também permitir que o país implemente a vacinação”. O CDC África é um braço da União Africana, um órgão regional com 55 países-membros no continente.
Quase uma dúzia de países africanos que trabalham para combater a doença recebeu cerca de 3 milhões de doses da vacina MPox desde o ano passado. No total, contudo, foram prometidas 5 milhões de doses pelo Japão, EUA e a União Europeia.
Por parte dos Estados Unidos, foram enviadas 91 mil das mais de 1 milhão prometidas pelo governo do ex-presidente Joe Biden, e 220 mil doses da vacina MPox têm prazo de validade suficiente para serem enviadas se o governo Trump aprovar, de acordo com um porta-voz do África CDC.
Os EUA não divulgaram o preço das vacinas, mas o Unicef (Fundo das Nações Unidas para a Infância) revelou no ano passado que estava pagando até US$ 65 por dose, o que chamou de “o menor preço do mercado”. Cada dose equivale a R$ 365,56, pelo câmbio de 19 de julho de 2025.
A perda das vacinas MPox ocorre depois que o presidente Donald Trump cortou programas de ajuda externa e fechou a Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional, que administrava a maioria deles.
Na avaliação de Andrew Nixon, porta-voz do Departamento de Saúde e Serviços Humanos, “algumas remessas foram atrasadas devido a obstáculos regulatórios nos países destinatários”. Ele afirmou que o epicentro da epidemia, a República Democrática do Congo, não pôde aceitar vacinas por um tempo porque suas autoridades de saúde não aprovaram seu uso.
O Congresso aprovou esta semana um projeto de lei solicitado por Trump, rescindindo centenas de milhões de dólares em financiamento global para a saúde.
Sem vacinas, epidemia pode sair de controle e matar milhares de pessoas em todo o mundo
Os países africanos relataram quase 160 mil casos suspeitos de MPOX desde o início de um surto em 2024, com cerca de 46 mil confirmados.
Há suspeita de que quase 1,9 mil pessoas tenham morrido em decorrência das complicações da MPOX, muitas delas crianças, mas os países só conseguiram confirmar 216 mortes.
O conflito armado e a falta de acesso a testes no Congo e em outros pontos críticos dificultaram que as autoridades de saúde tivessem uma visão clara do número real de casos e mortes.
Já a OMS (Organização Mundial da Saúde) declarou o surto de MPOX na África uma emergência global de saúde pública no ano passado.
Pesquisadores alertaram que o vírus que causa a doença está sofrendo mutações, o que pode torná-lo mais transmissível ou mortal.
Estados Unidos e Europa vivenciaram os primeiros grandes surtos da doença em 2022. Uma campanha de vacinação em massa voltada para pessoas de alto risco ajudou a conter a disseminação, acreditam autoridades de saúde pública.
A perda das vacinas dos Estados Unidos se soma ao fracasso das Nações Unidas em atingir sua meta de arrecadar US$ 33 milhões para adquirir centenas de milhares de vacinas da empresa dinamarquesa que as fabrica, a Bavarian Nordic, disse Boum.
Além das vacinas, outros produtos destinados a países de baixa renda expiraram porque o governo Trump cortou a ajuda externa. Os Estados Unidos planejam queimar 500 toneladas de alimentos de emergência, informou o Atlantic esta semana.