A quarta fase da operação Tromper, que desde maio de 2023 sai às ruas para combater fraudes em licitações e corrupção na Prefeitura de Sidrolândia, mostra um esquema alimentado com bolinhos de dinheiro em espécie.
A investigação do Gecoc (Grupo Especial de Combate à Corrupção) e do Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Repressão ao Crime Organizado), ambos do MPE (Ministério Público Estadual), destaca tratativas sobre pagamentos.
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“Provando a atuação de Carmo Name Júnior como operador financeiro de Cláudio Serra Filho, vemos os dados extraídos do celular apreendido, em que Tiago Alves (operador financeiro do núcleo empresarial) conversa com Carmo Name, no dia 10.02.2023, ao enviar um áudio cobrando o dinheiro e Tiago Alves prometendo a entrega”.
Em seguida, conforme o MPE, Carmo manda fotos de dinheiro, iniciando-se um diálogo sobre os valores da propina. Ao ver a foto, Thiago explica que o bolinho comprido tem “110010”, faltando R$ 1.000,00, enquanto no “bolinho” com notas de 200 faltam R$ 100,00.
“Em resposta, Carmo Name diz que no outro bolo de dinheiro, que está inteiriço com notas de R$ 20,00, tinham 475 notas, faltando R$ 9.500,00, sendo 500 reais no outro bolo de dinheiro. Por conseguinte, Carmo apaga uma das mensagens e escreve que o total dos 3 pacotes é de R$ 29.000,00 em notas de 20”.
Com intenção de esclarecer os valores, Carmo envia áudio dizendo que faltam R$ 1.000,00 (mil reais) de 20 e R$ 1.000,00 (1 mil reais) de 100. Complementa falando que bolinho com as notas de 20 está faltando 100 reais para o 165, pois, ao contar, totalizou R$162.900,00.
Na sequência, acrescenta que dos R$ 30 mil com notas de R$ 20 ficou faltando mil reais e 500 reais em cada “bolo grande”, justificando que tinha um bolo de dinheiro com notas de 20 reais, que estava separado de “2 em 2 mil” e que no de dez mil reais, cujo bolo contém notas de cem reais, veio R$ 9.000,00 (nove mil reais), faltando, portanto, mil reais.
Por áudio, Thiago explica que na boca do caixa só é possível sacar R$ 49 mil, justificando o motivo de ficar faltando mil reais.
“Nessa interação de 2023, fica evidente que os repasses de propina, realizados por terceiros vinculados a empresários beneficiados por contratos públicos, eram fracionados e dissimulados mediante o uso de contas de interpostas pessoas, cujo beneficiário final era Cláudio Serra Filho”.
Genro da ex-prefeita de Sidrolândia, Vanda Camilo, Claudinho Serra (PSDB) era secretário de Fazenda, Tributações e Gestão Estratégica da cidade. Pouco depois da primeira fase da Tromper, ele assumiu cargo de vereador em Campo Grande, em 23 de maio de 2023. Serra foi preso no ano passado, saiu com tornozeleira eletrônica, mas voltou a ter a prisão decretada na Tromper 4, deflagrada em 5 de junho.
Conforme a promotoria, Carmo Name Júnior foi incumbido, além da função de agilizar e cobrar os acertos em dinheiro oriundos de propina, como das obras de pavimentação, da tarefa de movimentar contas de terceiros para desvincular a origem ilícita do dinheiro.
A Tromper 4 teve finalidade de reforçar os elementos colhidos na investigação, identificar outros crimes contra a administração pública, além da lavagem de dinheiro, praticada por meio da dissimulação e ocultação da origem ilícita dos valores indevidamente apropriados por meio do esquema criminoso operado na prefeitura de Sidrolândia.