O polêmico grito de guerra dos novos soldados da Polícia Militar, que entoaram uníssono “espanca até matar” e “bato nele até morrer”, chocou parte da sociedade e teve repercussão nacional. Já entre os políticos, os policiais ganharam o apoio na direita e foram cobrados para atuar em defesa pela sociedade na esquerda.
“Bate na cabeça, espanca até matar. Arranca a cabeça e joga ela pra cá. O interrogatório é muito fácil de fazer. Eu pego vagabundo e bato nele até morrer. Dessa daqui, todos conhecem, Faca da PM que cancela o CPF”. O hit foi condenado pelo governador Eduardo Riedel (PSDB) e pelo Comando Geral da Polícia Militar.
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O deputado estadual Pedro Kemp (PT) seguiu na mesma linha e condenou a manifestação por considera-la como apologia à violência. “Tais expressões constituem clara apologia à violência com crueldade, desrespeito aos direitos humanos e negação aos princípios constitucionais que regem a segurança pública, que deve pautar-se pela proteção da vida, da legalidade e da dignidade humana”, afirmou o petista, que foi presidente do Centro da Cidadania e Defesa dos Direitos Humanos Marçal de Souza Tupã I por dois mandatos.
“A Polícia Militar, como instituição pública, tem o dever de zelar pela ordem com respeito irrestrito aos direitos fundamentais, e não compactuar com discursos de ódio que incitem a brutalidade e a arbitrariedade”, frisou. “A divulgação desses gritos de guerra não só mancha a imagem da corporação, como também alimenta o temor e a desconfiança da população, especialmente de grupos historicamente vulnerabilizados”, alertou.
A deputada federal Camila Jara (PT) também condenou o hit. “A Polícia Militar, com caráter ostensivo e preventivo, deveria estar nas ruas para impedir que o crime acontecesse, não para agir como juiz e carrasco. A lógica da letalidade vem desde sua incorporação à estrutura de segurança pública durante os tempos sombrios da ditadura militar”, lamentou.
“Décadas se passaram, a sociedade mudou, mas os dados mostram que a lógica letal ainda permanece. Não está na hora de a segurança pública mudar também? É preciso modernizar as políticas públicas de segurança para atuar na raiz do problema. Países que conseguiram reduzir a criminalidade, como Portugal, Alemanha e Reino Unido”, sugeriu a parlamentar.
“Normal” e apoio
Ex-comandante da PM, o deputado estadual Carlos Alberto David dos Santos, o Coronel David (PL), deixou claro o apoio aos novos soldados. “O que te assusta mais: um grito de guerra no quartel… ou o silêncio de uma família que acabou de enterrar mais uma vítima da violência?”, questionou o bolsonarista.
“Enquanto alguns se escandalizam com a disciplina da tropa, eu enxergo a verdade: esses gritos são escudos contra o medo. É ali, na formação, que o policial aprende a não recuar diante do caos. Não são palavras de ódio. São palavras de coragem.
A realidade das ruas é dura. E só quem nunca enfrentou a criminalidade cara a cara tem o luxo de viver em bolhas e fazer ‘nota de repúdio’”, rebateu o militar.
“Eu fico do lado de quem põe a vida em risco todos os dias. Honro cada policial que veste essa farda com coragem. Vocês são a muralha entre o povo e o terror. E enquanto eu tiver voz, estarei do lado da tropa”, frisou.
Vereadores da Capital também apoiaram os novos soldados. Adeptos do projeto de lei que proíbe músicas do funk sobre violência, eles não se escandalizaram com os policiais gritando que vão “espancar até matar”.
Para o vereador André Salineiro (PL), que é policial federal, houve interpretação distorcida do hit. “Antes de atacar, informe-se. Total apoio a Polícia Militar de Mato Grosso do Sul”, ressaltou o parlamentar, adepto do lema “Deus, pátria e família”.
“Infelizmente, retiraram trecho do contexto tentando associar palavras de violência e morte a uma suposta cultura de violência na formação dos policiais, isso não é verdade”, rebateu Salineiro. “Esses termos fazem parte do linguajar militar em todo o mundo”, garantiu.
Na sua avaliação, não houve apologia à violência, mas reflexão da natureza da profissão, que é a defesa da sociedade, o enfrentamento da criminalidade e,a cima de tudo, o compromisso com a ordem e a vida.
“Saudade da minha época que não existia tanto mimimi. Guerreiros, na hora do F… não são os do sofá que vão nos defender”, postou o vereador Fábio Rocha (União Brasil). Na mesma linha, Maicon Nogueira (PP) também se manifestou a favor dos soldados porque o grito pregando a morte e a violência faz parte da cultura militar.
O vídeo com o grito de guerra feito por 427 soldados viralizou na quinta-feira (31), dia em que participaram do encerramento do curso de formação.