A OAB/MS (Ordem dos Advogados do Brasil, seccional de Mato Grosso do Sul) e o Ministério Público Estadual condenaram o grito de guerra de novos soldados da Polícia Militar de Mato Grosso do Sul. Em nota, as instituições criticaram a “extrema violência” dos novos policiais e o classificaram como “incompatível com os princípios constitucionais”>
Já um bancário procurou a Corregedoria da PM e registrou um boletim de ocorrência por temer a atuação dos 427 policiais. “Isto não é o que se espera de uma instituição que existe para proteger os cidadãos e não para disseminar a violência”, lamentou Cícero Roberto Lemos Castelluccio, 65 anos.
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Ele informou que procurou a PM para registrar o boletim para “preservação de direito” porque ficou muito preocupado com o teor do hit da nova turma. ““Bate na cabeça, espanca até matar. Arranca a cabeça e joga ela pra cá. O interrogatório é muito fácil de fazer. Eu pego vagabundo e bato nele até morrer”, gritaram os soldados para festejar o encerramento do 38º curso de formação.
“O conteúdo é violento e incompatível com os princípios constitucionais que regem a atuação das forças de segurança pública”, lamentou o MPE em nota após analisar o vídeo divulgado pelos meios de comunicação e nas redes sociais.
“A instituição observa de perto os desdobramentos das apurações já anunciadas e irá analisar detalhadamente o conteúdo exposto no vídeo, para adotar as medidas compatíveis com a gravidade da situação”, prometeu o procurador-geral de Justiça, Romão Ávila Milhan Júnior.
“As expressões utilizadas no referido canto, que exaltam práticas de extrema violência, configuram apologia explícita à violência e ao arbítrio, incompatíveis com os princípios constitucionais que regem a atuação das forças de segurança pública, o que é inadmissível em um Estado que se pretenda de Direito”, alertou a Comissão de Direitos Humanos da OAB/MS.
“A naturalização da violência como instrumento legítimo de ação policial representa grave ameaça à ordem constitucional e fomenta a cultura de abusos e violações sistemáticas de direitos, especialmente contra populações em situação de vulnerabilidade, em flagrante desrespeito aos compromissos internacionais assumidos pelo Brasil no âmbito do Sistema Interamericano de Direitos Humanos e do Sistema Global das Nações Unidas”, destacou.
O governador Eduardo Riedel (PSDB) e o Comando Geral da PM também condenaram o grito dos novos soldados e prometeram apuração para punir os responsáveis. “A expressão utilizada não foi criada pela instituição e tampouco faz parte de seus protocolos oficiais. A preparação do efetivo inclui disciplinas voltadas à valorização da vida, respeito às minorias e atuação comunitária”, destacou o Governo.
“O Governo de Mato Grosso do Sul enfatiza que forma policiais para defender a sociedade, a vida, a segurança e a paz”, concluiu.
Confira na íntegra a nota do MPE:
“O Ministério Público de Mato Grosso do Sul (MPMS) informa à sociedade que está analisando as imagens que circulam na internet e em veículos de imprensa, mostrando conduta registrada em vídeo, no qual policiais militares recém-formados entoam um grito de guerra cujo conteúdo é violento e incompatível com os princípios constitucionais que regem a atuação das forças de segurança pública.
Justamente por entender a importância da corporação para o Estado e para a população sul-mato-grossense, o MPMS defende que não se pode permitir comportamentos dessa natureza, sob pena de comprometer a credibilidade e os valores que devem nortear a atuação da Polícia Militar.
A instituição observa de perto os desdobramentos das apurações já anunciadas e irá analisar detalhadamente o conteúdo exposto no vídeo, para adotar as medidas compatíveis com a gravidade da situação.
MPMS
Para você, para todos!”
E nota da OAB/MS
“NOTA PÚBLICA
A Comissão de Direitos Humanos da Ordem dos Advogados do Brasil – Seção de Mato Grosso do Sul -, no exercício de sua missão institucional de defesa intransigente dos direitos fundamentais e do Estado Democrático de Direito, vem a público manifestar veemente repúdio ao conteúdo do grito de guerra entoado por integrantes da nova turma do Curso de Formação de Soldados da Polícia Militar do Estado de Mato Grosso do Sul, conforme amplamente divulgado pela imprensa estadual.
As expressões utilizadas no referido canto, que exaltam práticas de extrema violência, configuram apologia explícita à violência e ao arbítrio, incompatíveis com os princípios constitucionais que regem a atuação das forças de segurança pública, o que é inadmissível em um Estado que se pretenda de Direito.
A naturalização da violência como instrumento legítimo de ação policial representa grave ameaça à ordem constitucional e fomenta a cultura de abusos e violações sistemáticas de direitos, especialmente contra populações em situação de vulnerabilidade, em flagrante desrespeito aos compromissos internacionais assumidos pelo Brasil no âmbito do Sistema Interamericano de Direitos Humanos e do Sistema Global das Nações Unidas.
A OABMS acompanhará o caso para que s autoridades competentes — em especial do Comando Geral da Polícia Militar do Estado de Mato Grosso do Sul e da Secretaria de Estado de Justiça e Segurança Pública —identifique e responsabilize os envolvidos, adotando medidas urgentes e eficazes voltadas à reformulação das práticas pedagógicas e institucionais adotadas nos cursos de formação policial.
Campo Grande/MS, 01 de agosto de 2025
Comissão de Direitos Humanos – OAB MS”