Albertino Ribeiro – Artigo publicado na semana passada pela Auditoria Cidadã da Dívida Pública mostrou a fragilidade do argumento do Banco Central de que a demanda por alimentos no Brasil está pressionando a inflação. Na verdade, este argumento foi por terra a baixo com o tarifaço de Donald Trump.
Desde o anúncio das tarifas de 50%, podemos observar, no mercado interno, a queda de preço de frutas, carne e café. Isso mostra que o grande vilão da inflação de alimentos – segundo a auditoria Cidadã -, é a produção voltada para as exportações e não a alta demanda dos consumidores brasileiros.
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Outro dia estava lendo a dissertação de mestrado do Gabriel Galípolo, presidente do Banco Central. Vejam só: nela o chefe da nossa autarquia critica a pouca área plantada de culturas alimentícias e defende o aumento da oferta de alimentos como solução para a inflação. “Sério, Albertino?” Sim. Isso mesmo! Será que o Gabriel não acredita mais naquilo que ele mesmo escreveu; hein, Galípolo?!
Sendo assim, é urgente que o Banco Central deixe de sangrar a economia brasileira, penalizando, principalmente, os mais pobres. Os ricos têm como se protegerem, ganhando, inclusive, com as altas taxas de juros pagas pelos títulos da dívida pública. Inclusive, muitos latifundiários têm investimentos em títulos públicos.
Por seu turno, faz-se necessário a implementação de políticas públicas com objetivo de aumentar a área plantada, para que haja mais oferta de alimentos para a mesa do povo brasileiro; o governo precisa investir mais em agricultura familiar, pois são estes produtores que alimentam de verdade a população brasileira.
Os monocultores e exportadores já estão com a vida ganha com as benesses da Lei Kandir e com os generosos planos safra, que todos os anos enchem os cofres do “Agropop” brasileiro.
O tarifaço americano trouxe ao debate essa realidade que estava escondida e muitas pessoas não tinham a exata noção dos seus efeitos deletérios. É certo, o povo já deve se preparar, pois em um primeiro momento os alimentos, principalmente os perecíveis, irão sofrer uma pressão de queda de preços, pois não haverá tempo hábil para remanejar estes gêneros para outros países.
Ou seja, frutas, carnes e pescados serão os primeiros a darem sinais de queda para a alegria do povo brasileiro que precisa e tem o direito de se alimentarem melhor.
Um possível efeito colateral poderá vir em virtude da queda do fluxo de dólares causada pela redução das exportações. Obviamente, menos dólares na economia resulta em mais pressão sobre o câmbio, o que poderá ocasionar uma leve pressão sobre o preço de alguns produtos, mas, para tanto, o Banco Central deve ficar atento e utilizar os instrumentos necessários – que não seja a taxa de juros -, para resolver o problema.
Está na hora de Gabriel Galípolo e sua trupe iniciarem a redução da taxa Selic. A taxa está tão alta (15%) que uma redução de 1% ainda a deixará em patamares altíssimos.
Os EUA deram, na sexta-feira passada, mais uma contribuição para a queda da inflação por aqui; a taxa desemprego aumentou por lá, o que aumenta a esperança de que o Fed (Banco Central Americano) baixe as taxas de juros, temendo uma recessão.
Uma redução dos juros americanos poderá compensar uma queda no afluxo de dólares no Brasil, devido a redução das exportações para os EUA, equilibrando o mercado cambial, pois muitos investidores não irão comprar dólares para encherem suas carteiras de títulos americanos.
Enfim, tudo está favorável para um controle maior da inflação e para abrir espaço para a queda da taxa Selic, que é um remédio amargo e inútil.