Albertino Ribeiro – Se a ciência econômica fosse uma bússola, a indústria deveria ser o norte de qualquer país que realmente queira ser desenvolvido. Essa deveria ser a direção que o Brasil deveria ter seguido desde o século XIX.
No entanto, a nossa indústria não conseguiu impor seu protagonismo e não teve força para direcionar o desenvolvimento econômico brasileiro. Apoiado pelo Estado escravocrata, a liderança ficou para o setor agroexportador.
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Naquela época, a indústria americana, concentrada no norte do país, venceu a guerra pela hegemonia econômica. Se não fosse o esforço empreendedor daqueles industriais americanos, ajudados pelo Estado, a América seria hoje o que o Brasil, infelizmente, sonha em se tornar em breve: a fazenda do mundo! Não seria isso um pesadelo?
Caro leitor, não sou um inimigo do agronegócio! Afinal de contas, o mundo precisa de alimentos e matérias-primas, inclusive, existem países desenvolvidos que possuem riquezas naturais; podemos citar alguns como Noruega, Canadá, Austrália e também os Estados Unidos. Esses países, mesmo tendo vantagens comparativas na agricultura e no extrativismo em geral, não negligenciaram à atividade industrial. Uma atividade não precisar ser excludente da outra.
No século XIX, a indústria americana vivia em conflito com os ruralistas do sul do país. Os produtores de algodão, valendo-se das vantagens comparativas sobre os demais países, eram favoráveis ao livre comércio e tinham como principal porto dos seus produtos a Inglaterra, país que possuía grandes tecelagens.
Entretanto, os industriais, juntamente com lideranças do Estado americano, sabiam que a continuação dessa política levaria o país a ser uma grande nação agrícola fadada ao atraso industrial e tecnológico.
Para evitar um futuro “agrodistópico”, o governo americano resolveu adotar políticas protecionistas em relação às manufaturas estrangeiras, até que a indústria local tivesse condições de fazer frente às empresas de outros países. O tal do “liberou geral”, que os neoliberais defendem, só veio depois do fortalecimento do setor.
Uma curiosidade da época foi o desencorajamento da leitura dos livros de Adam Smith e David Ricardo pelo governo, uma estratégia para instilar no empresariado o desejo de ir contra a teoria das vantagens comparativas que, naquele momento, era o grande inimigo teórico da industrialização americana.
Ser a fazenda do mundo não era o sonho americano, mas um pesadelo contra o qual o setor privado e o governo lutaram para que não se materializasse e eles conseguiram.
O Brasil, cuja revolução industrial aconteceu com cem anos de atraso, também teve seu conflito indústria/agricultura desde a monarquia. Contudo, os produtores rurais levaram a melhor – pobre Barão de Mauá e seus pares – graças a influência que sempre tiveram junto ao estado Brasileiro.
Recentemente comemoramos o acordo Mercosul e União Europeia. Mais uma vez o agronegócio levará vantagem e a indústria ficará vulnerável à concorrência.
A indústria brasileira possui 24,7% de participação no PIB (dados de 2024), é praticamente o mesmo da época de Juscelino Kubitschek. Em 1956, quando Juscelino se tornou presidente, a participação do setor no PIB era de 24,1%, e o Brasil, naquela época, era considerado um país ainda agrário.
Infelizmente, a frase do economista Pedro Malan, ministro da Fazendo do governo FHC nos anos 90 “a melhor política industrial é não ter política industrial”, tornou-se o nosso norte, adiando uma grande oportunidade para o desenvolvimento do nosso país.