Movimentos sociais, sindicatos, lideranças de esquerda e manifestantes usaram o tradicional Grito dos Excluídos, realizado na manhã deste domingo (7), contra a anistia para os condenados pelos atos de 8 de janeiro e em defesa da soberania brasileira. Na tentativa de barrar o protesto, a Polícia Militar usou a cavalaria e spray de pimenta contra políticos, como os deputados federais Camila Jara e Vander Loubet, o ex-governador Zeca do PT, o deputado estadual Pedro Kemp e vereadores do PT.
Cerca de 1,5 mil pessoas participaram da manifestação, conforme estimativa de um dos organizadores, Agamenon Rodrigues do Prado. Dirigentes sindicais e a cúpula do PT, inclusive os três vereadores de Campo Grande – Jean Ferreira, Lankmark Rios e Luiza Ribeiro – participaram do ato.
Veja mais:
De verde e amarelo e de olho nos EUA, esquerda e direita vão às ruas contra e a favor da anistia
Votação da anistia pode beneficiar integrantes de organizações criminosas, alerta ex-deputado
PT e esquerda abraçam patriotismo, defendem democracia e rejeitam anistia em ato no domingo
Os manifestantes se concentraram na Rua Dom Aquino e marcharam pela Rua 13 de Maio em direção ao palanque, montado na esquina com a Avenida Afonso Pena, no Centro da Capital. Na altura da Rua Barão do Rio Branco, policiais militares montaram um cordão para evitar o avanço do protesto.
Os manifestantes, com autoridades a frente, forçaram o avanço e a cavalaria da PM foi chamada para conter o protesto. Houve confusão e até spray de pimenta foi disparado contra os manifestantes. Camila, Vander, Zeca, Kemp e os vereadores chegaram a sentir os efeitos do gás de pimenta. Apenas uma pessoa teria passado mal.
O mote foi o protesto contra a anistia ao ex-presidente da República, Jair Bolsonaro (PL), em prisão domiciliar por determinação do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal. “O País está indo pela 4ª vez pelo caminho de não punir golpistas, isso fragiliza as instituições, a democracia”, alertou Prado.
Ele citou a revista britânica The Economist, que classificou como “oráculo do capitalismo”, por ter citado o Brasil como exemplo na punição dos acusados pela tentativa de golpe e de fortalecimento da democracia para o mundo. “É um reconhecimento muito forte com o caminho do STF, de fortalecer a democracia e as instituições”, reforçou.
Soberania e sucesso
“As manifestações neste 7 de setembro em favor da soberania nacional foram uma determinação da Direção Nacional do PT. E aqui, em Campo Grande, eu avalio que foi um sucesso. Muita gente dos movimentos sociais e da classe política comprometida com o Estado Democrático de Direito”, avaliou Vander.
“Nosso objetivo com esse movimento no 7 de setembro foi sensibilizar e conscientizar o povo brasileiro da importância da democracia e da soberania do nosso país, que vive um momento de ataque por parte do governo Trump nos Estados Unidos. Também é uma mobilização contra qualquer tipo de anistia para aqueles que cometeram o crime e atentaram contra a democracia brasileira”, frisou o presidente regional do PT.
“Além disso, queremos pressionar o Congresso Nacional a pautar os projetos de interesse do povo brasileiro, afinal, essa proposta de anistia da extrema-direita não está em sintonia com o que a maioria da população quer e isso é confirmado por várias pesquisas de opinião. O que o povo quer é o fim da escala 6×1, a taxação dos super ricos e a isenção de Imposto de Renda pra quem ganha até R$ 5 mil”, destacou.
Maior influencer da esquerda, o ex-deputado federal Fábio Trad (PT) também participou e enalteceu a manifestação contra a anistia e a defesa da democracia.
“Foi ao mesmo tempo plural e singular, porque vários movimentos sociais com demandas estruturantes convergiram para o sem anistia eo Brasil soberano”, frisou.
Agamenon emendou que houve ainda manifestação em defesa do fim da escala 6×1. Ele destacou que outros países desenvolvidos já reduziram a jornada de trabalho. Ele afirmou que o mundo defende um tempo maior de descanso para o trabalhador.
Carapuça de anti pratiota
Landmark jogou indireta aos bolsonaristas, que defendem o lema “Deus, Pátria e família”, mas vão às ruas para defender as sanções dos Estados Unidos contra a economia brasileira para salvar Bolsonaro. “Reafirmamos hoje o compromisso com o país, com a democracia, com a soberania nacional e com o povo brasileiro, com aquele que realmente é brasileiro. E a carapuça caiu para muitos que defendiam a pátria travestidos de falsos patriotas, mas que, na verdade, estavam protegendo interesses políticos de uma minoria antidemocrática que não nos representa. Nós não podemos aceitar isso”, acusou.
Siga o canal do O Jacaré no WhatsApp
O parlamentar também lembrou o período da ditadura militar e ressaltou a dívida histórica do Brasil com os familiares de desaparecidos políticos.
“O Brasil tem uma dívida com as famílias que até hoje têm parentes desaparecidos. Esse processo de julgamento aos torturadores e ditadores começou no governo Lula, continuou com a Dilma e precisa seguir. O Judiciário hoje tem se mostrado forte, em defesa da pátria e da soberania nacional”, elogiou.
Gritos e faixas
Os manifestantes foram às ruas com o grito “Sem anistia”. Após a ação da PM, até o governador Eduardo Riedel (PP), que defendeu a anistia e criticou a prisão de Bolsonaro foi alvo. “Fora Riedel”, gritaram alguns manifestantes.
O protesto teve faixas em defesa da isenção do Imposto de Renda para quem ganha até R$ 5 mil e a taxação dos superricos, duas bandeiras do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). “Congresso inimigo do povo” era uma das faixas de protesto em decorrência da dificuldade em aprovar a isenção para os trabalhadores com renda de até R$ 5 mil.
“Evangélicos pela democracia” também foi um dos destaques no momento em que os evangélicos estão mais presentes nas manifestações bolsonaristas.