Secretário da Saúde na gestão de Gilmar Olarte, o vereador Jamal Mohamed Salem, o Dr. Jamal (MDB), acredita que o comitê criado pela prefeita de Campo Grande, Adriane Lopes (PP), para gerir a Secretaria Municipal de Saúde está fadado ao fracasso. O parlamentar defende que a chefe do Executivo nomeie imediatamente um titular para comandar a pasta antes que o caos fique ainda pior.
Em meio a denúncias do desvio de R$ 156 milhões na saúde e falta de remédios nos postos, Adriane demitiu a médica Rosana Leite de Melo do cargo de titular da Sesau e implementou um comitê comandado pela ex-secretária municipal de Iguatemi, Ivone Kanaan Nabhan Pelegrinelli, para gerir a pasta.
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“Na minha opinião, essa comissão que tá aí não vai resolver o problema da saúde. Porque nessa comissão só tem dois que entendem de saúde. O resto, eles não sabem”, avalia Dr. Jamal. O vereador até pensa que Ivone Pelegrinelli poderia fazer uma boa gestão, desde que fosse oficialmente a titular, sem ter de prestar contas a um comitê.
“É aquela velha história. Como você vai colocar ordem na sua casa se você não manda na sua casa? Não consegue. Então ela tem que assumir, tem que ter a caneta na mão e unir os técnicos da Sesau, porque tem excelentes pessoas, são de gabarito”, argumenta o vice-presidente da Comissão de Saúde da Câmara.
Jamal afirma que quanto mais tempo o comitê durar, o caos na saúde da Capital deve se prolongar. O vereador relata que tem sido cobrado diariamente pela população sobre a demora para atendimentos, exames e cirurgias. E que os parlamentares repassam as reclamações para a prefeita Adriane, mas que ela não dá ouvidos.
“Só que infelizmente ela [Adriane] não está ouvindo, não está colocando isso em prática. Eu fico preocupado com a população que está sofrendo”, diz Jamal. “Tem como melhorar, basta ter gestão, basta ter um plano. Nós precisamos fazer atenção básica, criar o terceiro turno, fazer mutirão de cirurgias eletivas, porque tem gente esperando há dois, três anos. Tem pessoas que já faleceram. Falta gestão”, afirma.
O presidente da Câmara Municipal de Campo Grande, vereador Epaminondas Vicente Neto, o Papy (PSDB), defende que o Legislativo pode contribuir com nomes para o comando da Sesau, e cita o próprio Dr. Jamal, além do Dr. Lívio Viana (União) e Dr. Victor Rocha (PSDB).
“São três vereadores com experiência. Quando você tem o parlamento na gestão, algum vereador dentro da gestão, eu acho que cria um fluxo de trabalho interessante. Defendo essa tese mesmo politicamente e administrativamente. Nossos nomes são interessantes. Não vejo na prefeitura um quadro com a experiência dos nossos”, explica Papy, que diz não estar fazendo lobby para que isso se concretize.
Desvio de R$ 156 milhões
O Ministério Público Estadual abriu inquérito para investigar o suposto desvio de R$ 156 milhões na saúde na gestão de Adriane Lopes (PP). A promotora Daniella Costa da Silva, da 32ª Promotoria de Justiça, encaminhou ofícios cobrando explicações da Secretaria Municipal da Saúde e até do presidente da Câmara Municipal, Epaminondas Vicente Neto, o Papy (PSDB), que ignorou o primeiro ofício.
O desvio de R$ 156 milhões do Fundo Municipal de Saúde para pagar contas enquanto pacientes correm risco de morrer nos hospitais, faltam remédios e médicos nos postos de saúde, foi denunciado pelo presidente do Conselho Municipal de Saúde, Jader Vasconcelos.
Adriane teria cometido uma pedalada mais grave do que a realizada pela presidente Dilma Rousseff (PT) em 2016, que levou ao impeachment mais polêmico da história recente.
O assunto chegou a ser denunciado antes da queda da médica Rosana Leite de Melo da Sesau pelo vereador Landkmar Rios (PT). Ele mesmo fez vistoria nos postos de saúde e constatou a falta de medicamentos – que a prefeita evangélica prometeu entregar em casa na campanha pela reeleição.