Pesquisadores da Universidade de Sheffield descobriram que a desinformação nas redes sociais está levando mulheres a rejeitar o uso da pílula anticoncepcional e até a desenvolver efeitos colaterais provocados pelo chamado “efeito nocebo” — uma reação psicológica oposta ao efeito placebo.
O estudo, publicado na revista Perspectives on Sexual and Reproductive Health, identificou que conteúdos disseminados principalmente no TikTok e no YouTube alimentam crenças negativas sobre a contracepção hormonal. Essas mensagens criam expectativas de que o medicamento fará mal e aumentam a chance de as mulheres relatarem sintomas como ansiedade, fadiga e depressão, mesmo quando não têm relação fisiológica direta com a pílula.
Segundo as autoras Rebecca Webster e Lorna Reid, quase todas as 275 mulheres entrevistadas relataram pelo menos um efeito colateral ao usar o anticoncepcional oral. Os pesquisadores identificaram quatro fatores que aumentam a probabilidade do “efeito nocebo”: expectativa inicial negativa, baixa confiança no processo de desenvolvimento de medicamentos, crença de que os fármacos são usados em excesso e percepção de sensibilidade maior a remédios.
Embora a pílula continue sendo o método contraceptivo mais popular em todo o mundo, o uso vem caindo. Conforme as pesquisadoras, a utilização caiu de 39% em 2020-21 para 28% em 2023-24. Especialistas associam o fenômeno ao aumento da desinformação e alertam que o abandono da contracepção está ligado ao crescimento recorde de abortos — mais de 251 mil apenas em 2022, um aumento de 17% em relação ao ano anterior.
Redes sociais não são o único problema que impulsiona a desinformação sobre anticoncepcionais
Para Janet Barter, presidente do College of Sexual and Reproductive Healthcare, o problema não se limita às redes sociais: “Sabemos que muitos jovens sofrem com depressão e ansiedade, o que os torna mais cautelosos em relação a qualquer coisa que acreditem poder piorar sua saúde. Esse contexto potencializa o efeito nocebo”.
Serviços de saúde sexual também apontam falhas na comunicação institucional. “Os jovens em nossas clínicas chegam com dúvidas alimentadas por informações incorretas vistas online. Muitos acreditam que a pílula causa ganho de peso, infertilidade ou até que altera preferências afetivas”, afirmou Laura Domegan, que atua com enfermagem.
Os pesquisadores defendem que o combate à desinformação deve vir acompanhado de “conversas honestas” em escolas e serviços de saúde e de estratégias para reforçar a confiança das mulheres em relação aos medicamentos. Intervenções psicológicas, como o enfrentamento de crenças negativas, poderiam reduzir efeitos colaterais e aumentar a adesão à contracepção hormonal.