Depois de dizer que o município passa por dificuldades financeiras e anunciar “cortes gigantes” de gastos, o prefeito de Ivinhema, Juliano Ferro (PL), agora nega crise e ataca a imprensa por divulgar que ele batalha no Judiciário para manter o salário em R$ 35 mil. O neo bolsonarista justifica que apelou ao Tribunal de Justiça para rebater a decisão que apontou irregularidade no reajuste de seu salário.
“Passamos por uma crise que tô no meu quinto ano de mandato e ainda não tinha vivenciado”, disse, literalmente, Juliano Ferro na gravação em que declarou os cortes, divulgada em 10 de setembro. Em publicação nesta terça-feira (23), o autointitulado “prefeito mais louco do Brasil” agora afirma que as medidas de austeridade são para impedir uma crise no futuro.
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“Realmente estou fazendo cortes e nosso município não está com crise, estamos evitando a crise no futuro e por isso, sim, os cortes. E, por isso, também já encaminhei a redução do meu próprio salário, eu mesmo, de vice e dos meus secretários”, relata o prefeito que deixou o PSDB e se filiou ao PL no último domingo (21).
Em março deste ano, o juiz Rodrigo Barbosa Sanches, da 1ª Vara de Ivinhema, concedeu liminar para suspender reajuste de 75% e manteve o salário de Juliano Ferro em R$ 19.904. A decisão foi mantida pelo presidente do TJMS, desembargador Dorival Renato Pavan. O procurador-geral do Município, Fernando Pereira, apelou seguidas vezes para reverter a situação.
O principal argumento para a concessão da liminar é que o reajuste foi aprovado em 11 de julho do ano passado, dentro do prazo de 180 dias em que a Lei de Responsabilidade Fiscal proíbe aumento de gastos com pessoal, devido ao fim do mandato e à disputa eleitoral.
Na última sexta-feira (19), o procurador-geral do município suplicou novamente para o desembargador Dorival Renato Pavan suspender a decisão judicial que cancelou o reajuste de 75%.
Como a apelação se contrapõe ao discurso de corte no próprio salário do prefeito, Juliano Ferro apresentou uma justificativa para a medida.
“A questão judicial porque a Justiça alega que, quando foi aumentado o salário aqui, fez uma irregularidade. E eu tô brigando judicialmente não é para aumentar meu salário, para dizer que não foi irregular. Mas a gente fizemos [sic] a própria redução do salário. E essa questão judicial é pra mim não ser penalizado”, justificou o prefeito no vídeo desta terça-feira.
A realidade deste momento é que, apesar de Juliano Ferro anunciar “redução” no próprio salário de R$ 35 mil para R$ 25 mil, a Justiça cancelou o reajuste e determinou a redução do subsídio para R$ 19.904.
No dia 5 deste mês, o prefeito, que de louco não tem nada, apelou ao TJMS para que o presidente analise imediatamente o pedido de suspensão da liminar devido ao risco de grave lesão.
O desembargador Dorival Renato Pavan pode facilitar as medidas de contenção de gastos e impor a Juliano Ferro o sacrifício de cortar na própria carne, dando exemplo ao povo, e reduzindo o próprio salário de R$ 35 mil para R$ 19,9 mil, como determinou a Justiça, e não para R$ 25 mil, como ele vem propagando.