A denúncia do procurador-geral de Justiça, Romão Ávila Milhan Júnior, contra o prefeito de Terenos, Henrique Wancura Bucke (PSDB), e mais 25 pessoas pelos crimes de corrupção passiva e ativa, afirma que restou “categoricamente comprovada” a existência de uma organização criminosa liderada pelo tucano que atua pelo menos desde 2021 até atualmente.
Romão Milhan Júnior destaca que apesar da ofensiva deflagrada e da denúncia já oferecida na Operação Velatus contra parte do grupo, a gestão do prefeito reeleito continuou contratando as mesmas empresas e “empresários corruptos”. As novas contratações e aditivos contratuais suspeitos assinados entre o segundo semestre de 2024 e maio deste ano ultrapassam os R$ 16,5 milhões.
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A acusação é derivada da Operação Spotless, deflagrada no último dia 9 de setembro. Durante os trabalhos, o MPE utilizou provas obtidas, especialmente o conteúdo extraído de alguns telefones celulares apreendidos, na Operação Velatus, de 13 de agosto de 2024, que revelaram o modus operandi da organização criminosa e possibilitaram que se chegasse até o líder do esquema.
“De fato, verificou-se que a organização criminosa atua há anos fraudando e direcionando, reiterada e sistematicamente, diversas licitações no Município, bem como pagando elevados valores em propinas a agentes públicos, especialmente o Prefeito Municipal”, diz a denúncia protocolada em 23 de setembro.
Entre fevereiro de 2024 e início de 2020, diversos contratos foram assinados ou aditivados, sendo que vários continuam em vigor, com as mesmas empresas utilizadas pela organização criminosa, “demonstrando claramente que o esquema criminoso no Município de Terenos continua em pleno funcionamento, sob a liderança do Prefeito HENRIQUE WANCURA BUDKE”.
O esquema conta com a participação direta e efetiva de diversos servidores públicos e empresários integrantes da organização criminosa, cujo total em contratos apurados, somente até o início deste ano, supera os R$ 14,5 milhões.
Entretanto, no último mês de maio, mesmo com os contratos sendo investigados pelo MPE, foram feitos aditivos com a empresa Hg Empreiteira e Negócios Ltda, do denunciado Hander Grote, no valor de R$ 935.035,23; e também com a RS Construções e Serviços Ltda, utilizada pelo denunciado Rogério Luís Ribeiro, no valor de R$ 1.053.292,58. Ou seja, o valor atualizado das contratações suspeitas superam R$ 16,5 milhões.
O procurador-geral Romão Milhan Júnior relata que o esquema do prefeito Henrique Wancura Bucke foi sintetizado da seguinte forma pelo empresário Tiago Lopes de Oliveira, integrante do grupo.
“É assim que o Henrique tem trabalhado e tem dado certo”; seguido na narrativa de que cabe ao próprio interessado elaborar os documentos licitatórios (“igual o postinho lá que a gente tá fazendo eu montei o projeto arquitetônico e todos os complementares”). Tiago depois narra a situação de combinar ou conter eventuais concorrentes que possam surgir por ocasião do julgamento, o que se faz contando com o auxílio dos demais integrantes da organização criminosa: “aí no dia da licitação veio 8 caboclo aí a gente tem que segurar lá fora a turma aí a gente conta com a parceria dos meninos de Terenos”.
Na sequência, Tiago explica que, no dia do julgamento, a organização criminosa efetivamente atua para garantir o direcionamento da licitação, quando admite que “aí eles vão no dia para ajudar né a pessoa ganhar no caso desse dessa obra seria a gente”.
Foram denunciados:
- Henrique Budke (PSDB), prefeito afastado de Terenos
- Arnaldo Godoy Cardoso Glagau (PSD), vereador e empresário
- Arnaldo Santiago, empresário
- Cleberson José Chavoni Silva, empresário
- Daniel Matias Queiroz, empresário
- Edneia Rodrigues Vicente, empresária
- Eduardo Schoier, empresário
- Fábio André Hoffmeister Ramires, policial militar do Batalhão de Choque e empresário
- Felipe Braga Martins, empresário
- Fernando Seiji Alves Kurose, empresário
- Genilton da Silva Moreira, empresário
- Hander Luiz Correa Grote Chaves, empresário
- Isaac Cardoso Bisneto, ex-secretário municipal de Obras e Infraestrutura
- Leandro Cícero de Almeida Brito, engenheiro
- Luziano dos Santos Neto, empresário
- Maicon Bezerra Nonato, servidor público municipal
- Marcos do Nascimento Galitzki, empresário
- Nádia Mendonça Lopes, empresária
- Orlei Figueiredo Lopes, comerciante
- Rinaldo Córdoba de Oliveira, empresário
- Rogério Luís Ribeiro, empresário
- Sandro José Bortoloto, empresário
- Sansão Inácio Rezende, empresário
- Stenia Souza da Silva, empresária
- Tiago Lopes de Oliveira, empresário
- Valdecir Batista Alves, empresário