Outro episódio em que empresários tiveram de “se virar” para atender pedido de propina do prefeito de Terenos, Henrique Wancura Bucke (PSDB), envolve a busca de R$ 31 mil em Dourados para ser entregue em Campo Grande, em setembro de 2022.
Conforme a denúncia do procurador-geral de Justiça, Romão Ávila Milhan Júnior, a odisséia começa no dia 9, com uma mensagem de Henrique Wancura ao empresário Sandro José Bortoloto. “Preciso de vc começo da semana que vem”, disse o prefeito.
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Sandro indicou o pagamento para a próxima terça-feira, 13 de setembro. Nesta data, “como sempre faz”, o prefeito cobra o pagamento do combinado. “To correndo pra organizar o que vc me pediu”, respondeu o empresário.
A resposta do Prefeito Municipal, então, é incisiva, “numa verdadeira exigência de vantagem indevida”, conforme classificou o chefe do Ministério Público Estadual: “Preciso pra amanhã”.
A partir de então, o código para se referir à propina passou a ser “documento”. “Preciso de entregar o documento, mas amanhã não consigo televar”, responde Sandro.
O motivo para o atraso da entrega do dinheiro é porque a verba deveria ser buscada em Dourados, que fica a 250 quilômetros de Terenos. Henrique Wancura então diz: “Preciso pra amanhã até o final do dia pra distribuir… Se puder me ajuda”.
“Ora, não há qualquer justificativa ou motivo legítimo para o Prefeito trocar mensagens e solicitar “ajuda” e “pra amanhã”, justamente, com o empresário vencedor de diversas licitações fraudadas e direcionadas pela organização criminosa em Terenos”, argumenta Romão Milhan Júnior.
Segundo a denúncia, o prefeito estava tão ansioso para receber o dinheiro que propôs disponibilizar um servidor municipal para buscar a propina em Dourados. Sandro, por sua vez, se comprometeu a deixar tudo certo para que a grana fosse recolhida no dia 14 de setembro, em Dourados, mas por um homem a serviço do empresário.
Sandro combinou com o prefeito de entregar o dinheiro no dia seguinte (15).
“Foi então que, para confirmar se o valor que detinha era suficiente para atender o Prefeito Municipal HENRIQUE, o empresário CLEBERSON questionou seu sócio SANDRO se havia alinhamento de valor da propina que seria buscada, tentando disfarçar a dúvida utilizando a expressão “quantas folhas é”, oportunidade em que SANDRO esclarece ser R$ 31.000,00 (trinta e um mil reais)”, relata o MPE.
O procurador-geral Romão Ávila Milhan Júnior esclarece que embora seja óbvio, “não custa ressaltar que nenhum documento que pudesse ser impresso em Dourados, não poderia ser impresso em qualquer outro município do Estado, inclusive em Terenos, sendo evidente trata se de dinheiro da propina que tem que ser pego pessoalmente!!!”.
Então, no dia 15 de setembro, os R$ 31 mil foram entregues por Sandro ao prefeito Henrique Wancura, no escritório do empresário em Campo Grande, na região do Bairro Santo Amaro, onde fica a sede da empresa Angico.
Antes do encontro, porém, o prefeito fez questão de solicitar para que o “documento” fosse entregue em um envelope fechado.
“É de se notar um peculiar pedido feito pelo Prefeito Municipal HENRIQUE WANCURA BUDKE ao empresário SANDRO JOSÉ BORTOLOTO, logo após a confirmação de que interposta pessoa buscaria a propina: “Entrega fechado por favor” […]; reforçando o fato de ser algo manifestamente ilícito que deveria passar desapercebido”, defende o MPE.
O procurador-geral de Justiça, Romão Ávila Milhan Júnior, denunciou o prefeito de Terenos, Henrique Wancura Bucke (PSDB), e mais 25 pessoas pelos crimes de corrupção passiva e ativa, organização criminosa, lavagem de capitais e fraude em licitação. Eles podem ser condenados a cadeia, suspensão dos direitos políticos, serem proibidos de ocupar cargos públicos e a pagar indenização por danos morais de R$ 10 milhões.
A denúncia foi protocolada no Tribunal de Justiça porque o tucano tem foro privilegiado e o relator será o desembargador Jairo Roberto de Quadros. Henrique está preso e afastado do cargo de prefeito de Terenos.