Mário Pinheiro, de Paris – Quem diria que um dia a pátria que viu nascer Moliere, Victor Hugo, Blaise Pascal, Descartes, os grandes filósofos iluministas Rouseau, Diderot, Voltaire, D’Alembert, Olympe de Gruges, assim como figuras históricas do pensamento como Sartre, Beauvoir, Camus, Deleuze, Foucault estaria um dia atolado em dívida e sem nenhum rumo na política. Isso é possível quando esquerda, centro direita e extrema direita não afinam as cordas na mesma tonalidade.
A França é uma república democrática. O presidente partilha seu poder com o primeiro ministro e quem realmente governa não é o presidente. O presidente é o chefe das forças armadas, pode dissolver a assembleia, destituir os deputados, enviar mensagens, votos de feliz natal em horário nobre e em cadeia nacional.
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Ao primeiro ministro cabe a responsabilidade de conduzir a política da nação, é ele quem debate e rebate as críticas da oposição no hemiciclo da assembleia legislativa, prepara os decretos a leva para votação as leis.
Mas a cena política francesa se decompõe dia após dia depois da eleição do segundo mandato de Emmanuel Macron em 2023, denominado de centro direita. O principal partido de extrema direita, Regrupamento nacional, reclama o poder desde sua fundação pelo racista e homofóbico, Jean Marie Le Pen que já disputou o segundo turno das eleições presidenciais de 2002 contra Jacques Chirac.
A herdeira Marine Le Pen, loira de olhos azuis, vem tentando trabalhar a imagem tão desgastada contra judeus, homossexuais, negros e minorias para angariar a confiança que falta para ganhar a eleição, mas o racismo persiste, embora de forma velada. O principal carro chefe de campanha de Le Pen sempre bate na tecla da imigração e ela poderia ser o Trump da Europa.
Esse partido ganhou muita influência no contexto europeu e tenta estar presente a cada evento de extrema direita. Mas Marine Le Pen se encontra inelegível por corrupção. Ela não pode se candidatar a presidente na próxima eleição. O candidato que vem tendo muita projeção para presidir a França é o jovem Jordan Bardella, do mesmo partido. Ele encarna o vigor, a inteligência, a beleza, mas não deixa de ser racista.
Desde que Macron assumiu a presidência já se foram quatro primeiros ministros que, não conseguem emplacar o apoio da Assembleia Legislativa ou são levados à demissão por falta de quórum pra fazer aprovar a verba para o ano seguinte.
A saga de primeiro ministro francês começou em 2017 com Edouard Philippe, Jean Castex, Elisabeth Borne, Gabriel Attal, Michel Barnier. O último foi Sébastien Lecornu no cargo apenas um mês. O abismo político se explica pela falta de maioria na Assembleia, pelo não respeito à maioria simples da esquerda quando Macron dissolveu os deputados na esperança perdida de obter maioria nas eleições legislativas.
A inflação ronda, bate no salário já desgastado sem aumento há vários anos, não controla o preço dos produtos nacionais e importados e os aposentados sofrem já que nenhum partido, que seja de direita ou esquerda, não sabem a fórmula pra tirar o país desta areia movediça.
O poder de compra e a reforma fiscal se afundam. Existe uma crise de confiança na democracia e um constante aumento da abstenção na hora de votar. O símbolo da França é o galo. É o único animal que canta mesmo com os dois pés na merda.