No artigo “PIB brasileiro: a agropecuária tem a cura e a indústria a salvação”, o ensaísta e economista Albertino Ribeiro analisa a disputa, por décadas entre os dois segmentos mais importantes da economia no Brasil. Na sua avaliação, o País deveria apostar na união dos dois para crescer e apostar em atividades que agreguem mais valor e gerem empregos bem remunerados.
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“O Brasil, segundo (Paulo) Gala, deveria desenvolver produtos mais complexos e ligados ao agronegócio. A galinha dos ovos de ouro está na fabricação de colheitadeiras, plantadeiras, tratores e produtos químicos utilizados na lavoura, como fertilizantes e defensivos agrícolas, por exemplo. Foi o que os EUA fizeram e não deixaram de ser também uma potência agrícola”, pontua.
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“Com efeito, se os governantes forem pragmáticos e menos religiosos em relação aos seus dogmas econômicos, a probabilidade de sucesso será muito grande. Vejam o caso da Coreia do Sul cuja produção arrozeira era a principal atividade na década de 60. O tigre asiático se recusou a se deitar no berço esplêndido de sua vocação agrícola e resolveu sonhar muito alto, ousando se industrializar”, frisa.
Já sobre o Estado, cuja indústria contribui com 1,6% com o PIB nacional, ele vê oportunidades, mas que ainda precisam ser melhor aproveitadas. “Temos o apoio que é a natureza pujante e a força do agronegócio; temos a alavanca que são as mentes brilhantes que estão em nossas empresas e universidades. Com a parceria sinérgica entre Estado e mercado, o nosso Mato Grosso do Sul poderá se destacar e contribuir ainda mais para a economia do país”, conclui.
Confira o artigo na íntegra:
PIB brasileiro: a agropecuária tem a cura e a indústria a salvação.
Albertino Ribeiro (*)
Segundo o IBGE, a economia brasileira cresceu 1,2% em relação ao último trimestre de 2020. O resultado veio acima do esperado e mais uma vez o destaque foi o setor agropecuário que cresceu 5,7%; logo atrás vem a indústria com 0,7% e o setor de serviços – o mais afetado pela pandemia – com 0,4%.
Ninguém duvida que o Brasil – um gigante pela própria natureza – tem uma vocação agrícola; temos um solo rico e um clima favorável. Contudo, esse importante setor da economia brasileira não pode garantir sozinho o desenvolvimento econômico do país. A história econômica mundial mostra que a indústria teve papel fundamental no desenvolvimento das nações.
No Brasil, o debate entre o setor agropecuário e a indústria não é de hoje. Na verdade, existe uma falsa dualidade, pois as verdadeiras forças opostas que operam até hoje são as forças da dicotomia estado e livre mercado.
Entre 1944 e 1945, dois economistas, Roberto Simonsen (1889-1948) e Eugênio Gudin (1886-1996), travaram uma verdadeira guerra dialética cujo objetivo era convencer o presidente Getúlio Vargas sobre qual seria o melhor caminho para o Brasil se desenvolver. De um lado, Simonsen defendia a política industrial que pressupunha uma forte participação do Estado; do outro, Eugênio Gudin defendia o liberalismo raiz, calcado na retirada do Estado da atividade econômica, deixando que o setor agropecuário desempenhasse o papel de motor do desenvolvimento brasileiro.
O tempo passou e, para quem tem um pensamento complexo, está claro que livre mercado e Estado são opostos complementares. Destarte, temos vários exemplos de países que não colocaram os dois entes em lados diametralmente opostos como os nossos pioneiros fizeram, mas aproveitaram a sinergia de ambos.
Com efeito, se os governantes forem pragmáticos e menos religiosos em relação aos seus dogmas econômicos, a probabilidade de sucesso será muito grande. Vejam o caso da Coreia do Sul cuja produção arrozeira era a principal atividade na década de 60. O tigre asiático se recusou a se deitar no berço esplêndido de sua vocação agrícola e resolveu sonhar muito alto, ousando se industrializar.
É certo que teve muitos percalços, inclusive, o Banco Mundial negou a concessão de empréstimos para a construção da siderúrgica POSCO. O órgão multilateral, rezando na cartilha de Eugênio Gudin, alegou ser loucura construir siderúrgica em país que não possuía minério de ferro em seu solo e que, em vez disso, a Coreia deveria investir na produção e exportação de arroz, sua vocação.
Hoje sabemos como foi benéfico para a economia coreana; a península tem um tecido produtivo de alta complexidade, fabricando desde o aço ao chip de computadores; e tudo isso sem abandonar a vocação agrícola. A produção de arroz continua e o país asiático é o 15º produtor mundial da commodities.
A mãe se esforça pela mobilidade socioeconômica do filho.
Inacio Rangel, parafraseando Willian Petty, escreveu “se o trabalho é o pai da riqueza, a terra é a sua mãe”. Assim sendo, o país que tem a família reunida, como é o caso do Brasil, pode utilizar o setor agrícola para catapultar a indústria. Não há necessidade de irmos contra a lógica, pelo menos aparente, do presidente coreano, general Park Chung-Hee.
Segundo o site Agro times, o Brasil é o 4º maior produtor de grãos do mundo, ficando atrás apenas da China, EUA e Índia, sendo responsável por 7,8% da produção mundial. Ainda de acordo com o site, em 2020, o País exportou 123 milhões de toneladas de grãos e faturou, só com a soja, US$ 30 bilhões.
Por ser um grande produtor de alimentos, o Brasil possui várias indústrias atrelada ao agronegócio. A soja, por exemplo, é transformada em óleo, ração, queijo tofu, molho shoyu e outros derivados. No entanto, seus produtos são de baixo valor agregado. Segundo o economista Paulo Gala, da FGV, essas indústrias não geram empregos bem remunerados.
O Brasil, segundo Gala, deveria desenvolver produtos mais complexos e ligados ao agronegócio. A galinha dos ovos de ouro está na fabricação de colheitadeiras, plantadeiras, tratores e produtos químicos utilizados na lavoura, como fertilizantes e defensivos agrícolas, por exemplo. Foi o que os EUA fizeram e não deixaram de ser também uma potência agrícola.
No interior de São Paulo, temos um bom exemplo de tecnologia ligada ao agro. Trata-se da Jactor, empresa criada por japoneses que fabrica implementos agrícolas, dentre eles, pulverizador totalmente autônomo. O País precisa de mais empresas com capacidade semelhantes que podem gerar mais riqueza, empregos bem remunerados e autonomia para o país; hoje a maioria do maquinário e químicos usados na agricultura pertencem às multinacionais.
Alimentos Tec
Existem muitas alternativas. Nessa esteira, é possível avançar na tecnologia de alimentos processados para agregarmos mais valor ao processo produtivo. Segundo a Financial Times (2019), os países produtores de café recebem apenas 0,4% do valor do café consumido.
O Brasil se especializou justamente no elo mais fraco da cadeia produtiva de valor. Por seu turno, Alemanha e Suíça se especializaram em transformar o café em capsulas. Enquanto uma saca de 60kg de café está em R$ 880, a capsula de café da empresa alemã Nespresso é vendida no varejo por R$ 400 o quilo.
Mato Grosso do Sul pode ser uma alavanca
Dados de 2018 do IBGE, em parceria com o Governo do Estado, mostram que a indústria sul-mato-grossense tem participação de 22,3% no PIB estadual e 1,6% de participação no PIB Nacional. Nossa participação já foi bem menor que 1,6%. O Estado ficou vários anos com participação menor que 1%.
Contudo, MS pode avançar muito mais. Certamente o leitor deve conhecer a frase de Arquimedes: “ dê-me um ponto de apoio e uma alavanca, que eu moverei o mundo”. Temos o apoio que é a natureza pujante e a força do agronegócio; temos a alavanca que são as mentes brilhantes que estão em nossas empresas e universidades.
Com a parceria sinérgica entre Estado e mercado, o nosso Mato Grosso do Sul poderá se destacar e contribuir ainda mais para a economia do país.
“O Brasil e o mundo sabem que este país é uma superpotência econômica em potencial”. – Margaret Thatcher.