Mário Pinheiro, de Paris
A cultura de golpes de Estado na América latina é coisa impressionante. O pano de fundo vem sempre marcado pelos desejos ocultos do ultraliberalismo que quer “moralizar” num primeiro momento a política em curso, derrubar a democracia para impor um regime de marionetes, militares travestidos de portadores de ideias, capazes de obedecer ao pio de quem controla o setor financeiro e diz amém às chicotadas de além-mar. A privatização de empresas públicas é o maior sonho deles. Militar não pensa, obedece e cumpre ordens de quem manda.
Para quem não guarda nem nutre a memória, no passado, à partir de 1952, a começar pela Guatemala, a América Latina era palco de golpes de Estado orquestrados e repetidos pela CIA para preencher os objetivos comerciais e políticos dos Estados Unidos.
Veja mais:
No Divã Em Paris – O direito da mulher não pertence aos homens
No Divã Em Paris – Derrida, Foucault e Deleuze na desconstrução da razão
No Divã em Paris – Fake news é carro chefe da extrema direita
Com o passar dos anos, veio a Aliança pelo Progresso, completamente estipulado pelos americanos com pinceladas de brasileiros para realizar a reforma agrária no Uruguai, Paraguai e Brasil. A própria Fundação Ford foi usada como um cachorrinho adestrado no início de seus trabalhos e a ficha somente caiu muito tempo depois.
Os golpes militares se sucediam, as juntas militares eram impostas, e quem saia pela tangente era sempre o país do Tio Sam. Foram mais de 16 invasões sobre a soberania nacional de cada povo irmão, e, infelizmente, em matéria de geopolítica a direita sempre foi cega ao olhar os próprios interesses.
A Operação Condor, no Chile, por exemplo, divinizou Pinochet e enviou para as covas milhares de opositores ao regime do medo, e segundo os melhores sociólogos, é de origem americana. Para o golpe ocorrido no Brasil, há teses de doutorado, centenas de livros e artigos que apontam os Estados Unidos como o maior cliente e interessado em impor uma democracia nos moldes da cartilha imposta pelo país opressor.
Em 2019 o presidente Evo Morales sofreu um golpe de Estado manipulado por forças estrangeiras que usou como laranja uma senadora. Soube-se que o milionário Elon Musk havia financiado o putch com o objetivo claro de se apoderar de uma parte do lítio para suas baterias espaciais e carros elétricos.
A extrema direita brasileira vê em Musk a voz da esperança para frear o avanço dos moderados e da esquerda no Brasil. Felizmente, o milionário americano não tem dado ouvidos aos parlamentares da ala mais podre dos partidos de esgoto que desejavam dar um golpe de Estado com acampamentos diante de quartéis, quebra-quebra dos três poderes e com um capitão derrotado chorando suas mágoas.
A Bolívia tem a maior reserva de lítio do planeta, além de outros minerais que causam a cobiça e ambição de quem trabalha com carros elétricos. Desta vez não foi possível. O comandante das forças armadas foi contido num primeiro momento pelo presidente Luis Arce mas o golpe continua em curso.
Os militares bolivianos sempre abanaram o rabo para a CIA. Em 1967, na Sierra Maestra, eles encurralaram Che Guevara e deixaram os agentes americanos fazerem o serviço.
A guerra de palácios na América Latina, descrito pelos autores Yves Dezalay e Bryan Garth, está corretíssima. Os pensadores do ramo da economia de famosas universidades americanas realizaram as candidaturas aos alunos do Chile, Argentina, Bolívia e Colômbia para se formarem em Michigan.
O objetivo era obter o total controle quando eles retornassem e ocupassem cargos do ministério da economia e manter a política sob as rédeas do imperialismo. Era o tempo dos conhecidos “chicago boys”.