Mário Pinheiro
A França sempre teve um papel importante na condução e respeito da democracia, mas a realidade mostra um outro cenário de dúvidas e incertezas, algo dialético no estudo dos contrários. Quando o Partido ocialista presidia o país com François Hollande, o jovem Emmanuel Macron, ex-funcionário do banco Rotschild, tinha a chave do cofre no Ministério da Economia
Ele fundou um movimento que se tornou o partido Renascimento, candidatou-se à presidência, era visto como o novo pra revestir o velho. Mas Macron, durante os dois mandatos se mostrou centralizador, onipresente, um rolo compressor na condução de reformas.
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É preciso lembrar que nas duas vezes em que saiu vitorioso ele teve adesão das esquerdas para barrar o acesso da extrema direita cuja candidata era Marine Le Pen.
Entretanto, as eleições legislativas francesas acabaram. A união das esquerdas que forma a frente popular obteve o maior número de deputados eleitos, cujo objetivo era fazer barragem a extrema direita, porém não tem maioria absoluta.
No entanto, a lógica diz que o primeiro ministro deve ser escolhido desta coligação vencedora, mas o presidente Macron resolveu continuar, não se sabe até quando, com o desgastado, contestado e centrista Gabriel Attal.
Macron, não compreendeu que seu governo foi rejeitado pelas urnas, escreveu uma carta aos franceses para pedir tempo ao tempo. A questão do tempo é o trabalho do filósofo Henri Bergson sobre as intuições, que por ora está fora do alcance do presidente.
A instabilidade política continua, a direita conciliadora tenta convencer que a crise atual não permite nomear um primeiro ministro de esquerda. Segundo os politistas, juristas e sociólogos, Macron teria cometido um grande erro de cálculo do tempo ao dissolver a assembleia dos deputados porque é seu dever e direito a dissolução, mas deveria ter deixado passar os Jogos Olímpicos porque a França deve receber aproximadamente 15 milhões de pessoas para assistir as olimpíadas.
Sem a maioria absoluta, esta é a brecha que Macron encontrou para não aceitar a demissão de seu fiel primeiro ministro, mas esta situação não pode durar muito tempo. O presidente, além de arrogante, desobedece normas da democracia e prefere continuar servindo a classe abastada de banqueiros e grandes empresários.
A esquerda tem pressa na escolha do nome que tem a fila de nove candidatos para o cargo. Jean-Luc Melanchon, senador da França Insubmissa, deseja ter o gosto de governar. Mas Melanchon é visto como radical de extrema esquerda, acusado de antissemita e seu desejo é de elevar o salário mínimo a 1.600 euros, assim como diminuir o tempo da aposentadoria de 64 para 60.
A batata do Macron está assando e ele, dentro da lógica cartesiana, deverá compor e permitir uma coabitação.