Obras paradas, favelas, “fila da vergonha” na saúde, gasto com pessoal, esvaziamento do centro, transporte coletivo caro e ruim, pontos de alagamentos e a proliferação de moradores de ruas. Esses são apenas alguns dos desafios que a prefeita Adriane Barbosa Nogueira Lopes, 48 anos, do Progressista, vai precisar resolver nos próximos quatro anos que não conseguiu resolver em dois anos e oito meses.
Nesta quarta-feira (1º), a partir das 16h, no Centro de Convenções Rubens Gil de Camilo, no Parque dos Poderes, a advogada e ex-vendedora de sorvetes será empossada como a 66ª prefeita de Campo Grande. Natural de Grandes Rios (PR), evangélica e casada com o deputado estadual Lídio Lopes (sem partido), Adriane fez história ser reeleita no 2º turno com 229.699 votos e ser a primeira mulher eleita pelo voto direto na Capital. A primeira prefeita foi Nelly Bacha (PMDB) – que assumiu o cargo por ser presidente da Câmara.
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Neófita na política, Adriane chegou ao comando da Capital graças ao antecessor, Marquinhos Trad (PDT), de quem foi vice-prefeita nos dois mandatos. Ele deixou o cargo para disputar o Governo no dia 2 de abril de 2022 e ela se tornou a segunda mulher a ocupar o comando do município.
Ao longo de dois anos e oito meses, a prefeita conseguiu concluir apenas uma obra parada, a escola municipal de educação infantil do Jardim Inápolis. A Capital se transformou em um grande parque de obras paradas, como os corredores do transporte coletivo, a revitalização da antiga rodoviária, unidades básicas de saúde, escolas do ensino fundamental e da educação infantil, o Centro de Belas Artes, entre outras.
O número de favelas se multiplicou e mais de 60 mil pessoas moram em moradias precárias. Outro grave problema foi a fila com mais de 67 mil pacientes aguardando por consultas, exames e cirurgias na rede pública de saúde.
Outro problema é o comprometimento de 55% da receita com o pagamento de pessoal, muito acima do limite definido pela Lei de Responsabilidade Fiscal. Servidores estão sem reajustes e ainda brigam na justiça para receber adicionais, como a insalubridade dos profissionais da saúde e a periculosidade dos guardas municipais. Estima-se que o passivo com o funcionalismo gire em torno de R$ 400 milhões.
Na campanha eleitoral, a prefeita foi muito criticada pela deterioração econômica da Capital, que não conseguiu atrair nenhuma grande indústria e ainda perdeu participação no rateio do ICMS (Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços). A participação despencou de 24% para 11% em uma década.
Ao assumir o comando do orçamento de R$ 6,871 bilhões em 2025, Adriane poderá cumprir o principal lema da campanha, de que teve pouco tempo para resolver os problemas. Nas entrevistas e debates, ela frisava que tinha colocado a casa em ordem e o novo mandato seria a oportunidade de deslanchar os projetos.
O desafio será enorme e a prefeita vai precisar de ajuda do Governo Lula (PT), a quem passou toda a campanha criticando. A prefeitura não dispõe de recursos para realizar as grandes obras. Vai precisar de dinheiro para acabar com os 60 pontos de alagamentos. Apenas a obra de revitalização da Avenida Ernesto Geisel está orçada em R$ 150 milhões e foi incluída no Novo PAC. O déficit habitacional de 40 mil moradias só poderá ser reduzido com os recursos do programa Minha Casa Minha Vida, também de Lula.
Aliás, a falta de tempo vem se tornando uma marca de Adriane. Esse foi o motivo para a prefeita tomar posse sem anunciar o secretariado. Em praticamente todos os 5,5 mil municípios, os prefeitos assumem hoje e já empossam os novos secretários. Campo Grande só deve conhecer a equipe a partir de amanhã.