Crítico da Lei Rouanet e projetos de fomento à cultura, o deputado federal Marcos Pollon (PL) destinou R$ 1 milhão por emendas Pix ao governo de São Paulo para a produção de uma série documental de TV sobre a colonização do Brasil. No entanto, segundo o portal UOL, o destinatário final é uma associação privada ligada a igrejas evangélicas e que afirma ter viés conservador.
A ANC (Academia Nacional de Cultura), criada em 2020 e que não tem histórico de projetos na área do cinema e audiovisual, recebeu ao todo R$ 2,6 milhões em emendas Pix. Pollon e Carla Zambelli (PL), de São Paulo, enviaram R$ 1 milhão cada.
O deputado federal Alexandre Ramagem (PL), do Rio de Janeiro, enviou R$ 500 mil, metade do valor destinado pelo advogado sul-mato-grossense. Já Bia Kicis, do Distrito Federal, encaminhou apenas R$ 150 mil. Eles também contribuíram, em 2024, com o projeto da série de televisão “Heróis Nacionais – Filhos do Brasil que não se rendem”.
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O endereço que consta no CNPJ da ANC é de uma sala em um prédio comercial na Avenida Paulista. A reportagem do UOL esteve no local, que é uma empresa de coworking usada para endereços fiscais, e foi informada que a associação nunca foi cadastrada lá. Questionada, a ANC não se posicionou sobre o assunto, e informou apenas que sua sede operacional fica em outro endereço.
A série terá três episódios. O primeiro tem o título “Portugal: Luz para o Brasil”. O segundo tratará do padre espanhol José de Anchieta, conhecido como “Apóstolo do Brasil”, que teve papel relevante na catequização dos povos indígenas durante a colonização. Já o terceiro é chamado “Dom Pedro I: o Libertador”.
A ANC tem parceria com igrejas e foi integrante do GT Cristão, uma associação de igrejas evangélicas que tem como objetivo reunir líderes, pastores e ministérios “em prol do Reino” e se organizar politicamente para levar “pautas cristãs” às assembleias legislativas.
A série apoiada pelos deputados terá gravações em Lisboa, Porto e outras oito cidades portuguesas por três semanas. Em documentos enviados ao Governo de São Paulo, a ANC informa que entre os gastos previstos estão a compra de 22 passagens aéreas para Portugal.
O diretor da série é Doriel Francisco da Silva, dono da Dori Filmes. Ele foi responsável pela direção de um documentário sobre a trajetória de Bolsonaro (“A Colisão dos Destinos”).
Anteriormente, ao justificar o repasse, Pollon afirmou que o envio da emenda para São Paulo foi feito “para a produção de um documentário conservador, uma produção cultural”. Segundo o deputado sul-mato-grossense, as emendas de “alguns parlamentares” foram concentradas em SP com esse objetivo.
Junto com os deputados federais Eduardo Bolsonaro e Mário Frias, ambos do PL de São Paulo, Marcos Pollon destinou R$ 860.896 em verbas para um documentário produzido por ex-integrantes da Secretaria Especial de Cultura do governo do ex-presidente Jair Bolsonaro. A produção, intitulada “Genocidas”, recebeu o valor entre os dias 7 e 11 de fevereiro, segundo o Portal da Transparência.
Eduardo destinou R$ 500 mil, Frias alocou R$ 180 mil e Pollon, R$ 100 mil. As emendas foram enviadas à associação Passos da Liberdade, empresa criada em 2008, mas que só publicou seu único vídeo no canal do YouTube no ano passado.
O CNPJ foi sediado em Porto Alegre (RS) por Rodrigo Cassol Lima, ex-número 2 da Secretaria Nacional de Desenvolvimento Cultural no governo Bolsonaro. O órgão era subordinado à Secretaria de Cultura, chefiada por Mário Frias à época.