A Organização Mundial da Saúde (OMS) publicou na última semana as primeiras diretrizes globais para diagnóstico, tratamento e cuidados com a meningite. De acordo com o comunicado à imprensa enviado pelo órgão, o objetivo é acelerar a detecção, garantir tratamento oportuno e aprimorar o cuidado de longo prazo para os afetados. “Como são baseadas em evidências, as diretrizes fornecem uma ferramenta essencial para reduzir mortes e incapacidades causadas pela doença”, afirma o comunicado.
Somente em 2024, de acordo com o Ministério da Saúde, foram registrados sete óbitos em decorrência da doença. A OMS pondera que, apesar dos tratamentos e vacinas eficazes contra algumas formas de meningite, a doença continua sendo uma ameaça significativa à saúde global. “A meningite bacteriana é a forma mais perigosa e pode ser fatal em 24 horas.” Muitos patógenos podem causar meningite, com cerca de 2,5 milhões de casos relatados globalmente em 2019. Isso inclui 1,6 milhão de casos de meningite bacteriana, que resultaram em aproximadamente 240 mil mortes.
Estudos divulgados pela OMS alertam que cerca de 20% das pessoas que contraem meningite bacteriana desenvolvem complicações a longo prazo, incluindo deficiências que afetam a qualidade de vida. Apontam, ainda que, a doença também acarreta altos custos financeiros e sociais para indivíduos, famílias e comunidades. “A meningite bacteriana mata uma em cada seis pessoas que atinge e deixa muitas outras com problemas de saúde duradouros”, disse Tedros Adhanom Ghebreyesus, Diretor-Geral da OMS. “A implementação dessas novas diretrizes ajudará a salvar vidas, melhorar o cuidado de longo prazo para as pessoas afetadas pela meningite e fortalecer os sistemas de saúde.”
A meningite pode afetar qualquer pessoa, em qualquer lugar e em qualquer idade; no entanto, a carga da doença permanece particularmente alta em países de baixa e média renda e em cenários com epidemias em larga escala. A maior carga da doença é observada em uma região da África Subsaariana, frequentemente chamada de “cinturão da meningite”, que apresenta alto risco de epidemias recorrentes de meningite meningocócica.
No Brasil, no período compreendido entre 2010 e 2024, o Brasil registrou 22.504 mortes por meningite, com uma média anual de 1.500 óbitos, conforme dados do Ministério da Saúde. No mesmo período, foram notificados 355.561 casos suspeitos da doença, dos quais 233.918 foram confirmados, representando 65,8% do total.
A meningite é uma inflamação das membranas que envolvem o cérebro e a medula espinhal, podendo ser causada por vírus, bactérias, fungos ou parasitas. As formas bacterianas, especialmente as causadas por Neisseria meningitidis (meningococo), Streptococcus pneumoniae (pneumococo) e Haemophilus influenzae tipo b (Hib), são as mais graves e letais.
A taxa de letalidade varia conforme o agente etiológico e a faixa etária, sendo mais elevada entre crianças menores de cinco anos e idosos. A meningite por pneumococo, por exemplo, apresenta uma taxa de letalidade superior à da doença meningocócica.
Em resposta ao impacto da doença, o Ministério da Saúde lançou o Plano Nacional para Derrotar as Meningites até 2030, com o objetivo de reduzir em 50% os casos e em 70% os óbitos relacionados à doença, por ser signatário da OMS. As estratégias incluem a ampliação da cobertura vacinal, o fortalecimento da vigilância epidemiológica e a melhoria do acesso ao diagnóstico e tratamento.
A vacinação é a principal medida de prevenção contra as formas mais graves de meningite. O Programa Nacional de Imunizações (PNI) oferece gratuitamente vacinas contra meningite meningocócica C, pneumocócica 10-valente e Hib para crianças, adolescentes e grupos de risco.
Especialistas alertam para a importância da vacinação e da busca por atendimento médico imediato ao surgirem sintomas como febre alta, dor de cabeça intensa, rigidez na nuca, náuseas, vômitos, sensibilidade à luz e confusão mental. O diagnóstico e o tratamento precoces são fundamentais para reduzir complicações e salvar vidas.
A meningite continua sendo um desafio para a saúde pública no Brasil, exigindo esforços contínuos de prevenção, vigilância e educação da população para minimizar seu impacto.
Conforme a OMS, melhorar o manejo clínico da meningite é essencial para reduzir a mortalidade e a morbidade, minimizar complicações e incapacidades a longo prazo e melhorar a qualidade de vida dos indivíduos e comunidades afetadas.
As novas diretrizes fornecem recomendações baseadas em evidências para o manejo clínico de crianças com mais de um mês de idade, adolescentes e adultos com meningite aguda adquirida na comunidade.
Elas abordam todos os aspectos do tratamento clínico, incluindo diagnóstico, antibioticoterapia, tratamento adjuvante, cuidados de suporte e manejo de efeitos a longo prazo. Dadas as semelhanças na apresentação clínica, no diagnóstico e nas abordagens de tratamento entre as diferentes formas de meningite aguda adquirida na comunidade, as diretrizes abordam causas bacterianas e virais.
As diretrizes fornecem recomendações para cenários epidêmicos e não epidêmicos, sendo que estas últimas substituem as diretrizes anteriores da OMS de 2014, que abordavam a resposta a surtos de meningite.
Vencer a meningite até 2030
As diretrizes contribuem para o Roteiro Global para Derrotar a Meningite até 2030, adotado pelos Estados-membros da OMS em 2020, que visa: eliminar epidemias de meningite bacteriana, reduzir os casos de meningite bacteriana prevenível por vacina em 50% e as mortes em 70%, e reduzir a incapacidade e melhorar a qualidade de vida após a meningite.
Alcançar essas metas requer uma ação coordenada em cinco áreas principais:
- Diagnóstico e tratamento: detecção mais rápida e gerenciamento clínico ideal.
- Prevenção e controle de epidemias: desenvolver novas vacinas acessíveis, alcançar alta imunização e cobertura e melhorar a preparação e a resposta a surtos.
- Vigilância de doenças: Fortalecimento dos sistemas de monitoramento para orientar a prevenção e o controle.
- Cuidado e apoio para aqueles afetados pela meningite: garantindo o reconhecimento precoce e melhor acesso ao cuidado e apoio para as consequências da meningite.
- Advocacia e engajamento: aumento do comprometimento político e da inclusão nos planos nacionais, melhor compreensão pública da meningite e maior conscientização sobre o direito à prevenção, ao cuidado e aos serviços de pós-tratamento.
Com essas diretrizes, a OMS fornece aos países uma ferramenta essencial para fechar lacunas no diagnóstico, tratamento e cuidados da meningite, garantindo que mais pessoas recebam tratamento oportuno e suporte de longo prazo.